quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

REGÊNCIA DE: ÒGÚN - ỌYA – OSHALA. EM 2010



No calendário africano o Ano Novo começa em 1° de março, segundo a literatura especializada em história da África. O mesmo ocorrendo com as comemorações afro-místicas, começando sempre com Ògún a abertura dos festivais do Ano Novo. Como este calendário místico foi impossibilitado de ser implantado aqui no Brasil, os curandeiros do final do século XIX optaram por fazer modificações dos seus cultos passando então, a promoverem suas datas festivas de acordo com o nosso calendário oficial; colocando assim a regência do ano nas mãos de duas famílias distintas de oríshas: a família de Ògún e a de Shàngó.


No ano de 2009 termina a regência da família de Shàngó e 2010 começa a reger a família de Ògún.

Ògún, divindade masculina de origem Yorubana, onde possui o seu nicho, templo sagrado em Abeokuta. É um dos mais importantes orixás cultuado aqui no Brasil.

Segundo a mitologia africana, Ògún é o filho prodigioso de Olókun e Odùdúwa, o criador da existência.

Aclamado como Deus da Agricultura e do Ferro. Ele é o responsável por todo o desenvolvimento tecnológico nos setores da indústria do ferro e do aço. Considerado um estrategista de primeira linha, parceiro feroz, guerreiro, poderoso. Ao mesmo tempo considerado um excelente companheiro na luta pela vida, garantindo aos seus filhos e protegidos uma vida de muito trabalho e conquista. Guerreiro impulsivo daqueles que jamais foge de uma luta.

Coube a ele a responsabilidade de ensinar aos homens o uso dos metais.

Na Regência de Ògún, os excluídos começam a ser protegidos, como os bêbados, os pobres, os maltrapilhos, os fracos, os abandonados, as crianças, assim como seus filhos e seguidores sinceros.

Nesta Regência Ògún traz dois odùs positivos: Òbéte-Ogundá e Etáogundá.

Òbéte-Ogundá governa a origem da vida através das águas e consequentemente a origem da vida na terra, com especialidade no que diz respeito às guerras e suas implicações. Muito embora estes odùs tenham ligação direta com Yemonjá, eles interferem diretamente nas ações e decisões de Ògún, assim como seus presságios para o Ano de 2010. Ainda teremos muitos transtornos provocados pelas águas, e declarações de conflitos armados, mesmo porque Òbéte-Ogundá ainda traz consigo os odùs Ejilá e Ossá, sendo ambos de origem marítima. Mas, esta trilogia também traz a evolução da Ciência Humana com soluções para o desconhecido e as doenças graves.

Como Deus da Agricultura, ele traz Etáogundá que apresenta a evolução da cultura geral, protegendo a agricultura e proporcionando alimento em abundancia. Os agricultores terão sua proteção e o seu incentivo para que assim a agricultura caminhe a passos largos. A indústria do aço, do manufaturado e dos transportes estará em nível bem mais elevado proporcionando assim mais empregos. Porém, Etáogundá também costuma mudar o curso das coisas, jogando com as pessoas no campo das paixões. Poderá haver grandes retrocessos, pois, muitos que até o dia 31 de dezembro de 2009 se sentiram seguro de si, em 2010 “balançará” com especialidade os filhos de Yemonjá, Òshún, Oya, Shangó e Oshossi. Até porque Ògún traz para governar com ele a Senhora da Tarde, Yansan, isso, porém não aplacará a sua ira, o seu ciúme e o seu desgosto por ter sido abandonado por ela. E neste caso os filhos destes dois oríshas deverão não só os propiciar com oferendas como também rezar para que Etáogundá mude o curso das relações afetivas. Existe ainda a presença do odù Gundameji que virá para comandar as conquistas políticas, as quais serão muitas, ao mesmo tempo irá também provocar uma revolução para fins de reforma no cenário político. Estas mudanças trarão como conseqüência uma ligeira mudança na mentalidade política naqueles que comandam, pois será cobrado a eles satisfação.


Oya trazendo o odù Beofún como positivo no lugar de Obarasheke.

A especialidade de Beofún é afastar os Eguns e curar as doenças principalmente em mulheres grávidas e crianças. Ele contribuirá também na área da pesquisa para cura de doenças. Porém, junto com Beofún vem Dowarin (ou Owarin), Okaran e Obarase que trazem o fogo, a arte, a atração e a comunicação. É importante saber que esses três odùs são inseparáveis assim para propiciar um terá que propiciar os outros dois, sobre pena de ser perseguido pelos três.


Oshala ao invés de Etala-Metala traz Ajé Mirile Ajé oferecendo equilíbrio, vitórias sobre dificuldades, e renascimento. Mas, existem também decepção e doenças por causa de Ofú no caminho de Oshala que traz a Vida e a Morte.

Este é um ano muito perigoso para se mexer com Odù, pois eles estarão sempre em dupla, trio ou mesmo em quarteto e para que se tenha êxito é preciso que se dêem oferendas a todos em questão.






Para o início do ano é aconselhável:

Banho de rosas brancas, de aroeira (se for da branca será melhor), de quitoco, de girassol ou de colônia.

Qualquer um desses banhos tomados da cabeça aos pés e em série de três, proporcionará beneficio para qualquer pessoa.

Oferendas Para os Oríshas Regentes;

Ògún: abará, vatapá, ou lelê de milho vermelho.

Oshala: lelê de milho branco.

Oya: vatapá, abará, acarajé.

O lelê com certeza é a oferenda mais fácil de fazer.

Material:

½ kg de canjica vermelha, ½ l de leite de coco, 200 g de açúcar, cravo, canela em pau, erva-doce, ¼ de litro de leite de vaca, 150 g de milharina ou fubá de milho.

Como fazer:

Cozinhar a canjica bem cozida, e escorrer. Fazer um chá com um pouco de cravo (10) dois pedaços de canela em pau, um pouco de erva doce. Dissolver a milharina em um copo de água acrescente a seguir o leite de coco e o de vaca. Misturar com a canjica vermelha. Quando começar a ferver adicionar a açúcar e ½ copo do chá. Mexer para que fique bem encorpado (mais ou menos uns 20 minutos). Quando estiver no ponto (nem muito mole e nem duro) colocar nos pratos para que esfrie e fique em ponto de corte. Estando frio corte em pedaços e coloque em oberó, ofereça para Ògún acendendo uma vela e fazendo seus pedidos, o restante poderá ser oferecido com quem quiser compartilhar deste momento com você. Esta receita dará quatro ou cinco pratos, o lelê é ótimo para acompanhar com café ou chá.

Para Oshala o processo é o mesmo, só que com a canjica branca e no lugar da milharina o creme de arroz (não vitaminado). Deverá ser oferecido a Oshala em uma vasilha branca.

Para Oya pode oferecer o mesmo lelê que propicia Oshala ou o arroz de Haussa com molho branco e camarão.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

OLUBAJÉ

Olubajé é um ritual sagrado comemorado geralmente no mês de agosto, em homenagem a Obaluayê que alguns fazem sincretismo com São Roque e São Lazaro.
Este ritual antigamente tinha seu início sempre em meados de julho, que era quando as comunidades pertencentes ao candomblé traziam o ibá (assentamento) de Obaluayê ou Omolu de seu quarto de santo para o centro de seu barracão, com suas vestes e paramentos, para ser ali reverenciado por todos os adeptos e visitantes da dita comunidade, e ao mesmo tempo para que fossem depositados em seu redor os donativos para conclusão de seus festejos no mês de agosto. Estes donativos não se resumiam em dinheiro, também eram ofertados vinhos, azeites, mel, feijões, arroz, farinha, fubá, camarão seco, inhames, batatas, animais de duas e quatro patas, velas, enfim tudo que fosse necessário para o preparo das oferendas dedicadas aos orixás.
Quando faltavam entre sete ou quatorze dias para festividade, dependendo da casa, para conclusão deste preceito era preciso “pedir esmola”, em nome do orixá, pois se acredita que além de ser o Deus das Doenças, também é o Deus dos Desvalidos. Para isso, eram preparados tabuleiros: um com um assentamento muito bem arrumado de Obaluayê, que seria carregado por uma yawo com mais de três de anos de feita, ou seja, uma adosi, outro com pipoca, e um outro com guloseimas como cocadas, fubá de amendoim, de castanha, bolinhos, etc. Tudo pronto saía do barracão uma comitiva sob a supervisão de ou de ekedes, ou alabe, ou ogans, etc. Iam às ruas não só pra esmolar como para trocar pipocas e guloseimas por dinheiro e outros materiais ofertado ao orixá. O dinheiro era depositado no tabuleiro onde estava o assentamento do orixá, que só poderia ser contado no regresso ao barracão. Esta comitiva nos dias que ficavam fora do seu barracão de origem batia de porta em porta pedindo donativo, abordavam as pessoas nas ruas com muito respeito e agradeciam sempre a atenção a eles dispensada, com a palavra: “Olorunsan”, deus lhe pague.
Um momento importante desta peregrinação era quando batiam na porta de um barracão. Neste momento é que esta comitiva tinha que mostrar a educação e os princípios recebidos de seu barracão de origem. A começar por não levantar a cabeça por nada, salvo as ekedes e ogans responsáveis pela peregrinação. Ao entrarem no barracão visitado já encontravam uma esteira aonde iriam depositar seus tabuleiros, e várias outras a sua volta aonde iriam se sentar e bancos para os responsáveis pela comitiva.
Depois de algum tempo de descanso os visitantes começavam a rezar os seus àdúrás (suas rezas), ao terminar tomavam bênçãos aos mais velhos e trocavam de bênçãos entre si e com os outros que ali se encontrassem. As filhas do barracão anfitrião corriam para preparar uma comida para os visitantes; se esta visita fosse ao cair da tarde, elas se encarregariam de acomodá-los até o dia seguinte. E durante a noite, algumas com ordem do anfitrião se encarregavam de tomar conhecimento sobre o que estivesse acabado nos tabuleiros para repô-los, para que no dia seguinte pudessem continuar sua peregrinação com tranquilidade. Ao amanhecer então, após terem tomado um café reforçado era chegada à hora de partir, então todos se voltavam para o dono do barracão visitado batiam paó e a benção. Um responsável pelo cortejo dizia: “EREBE OLORÚNSAN, BABA MIM, ADUPÉ”, Deus lhe pague por tudo meu pai, obrigado. E escutavam um alegre: OLÓRUN ÍBEWÓ SAN, e Deus lhe paguem pela visita, e assim a comitiva seguia em frente para completar sua peregrinação. Quando retornavam ao seu barracão de origem eram recebidos com festa pelos seus superiores, irmãos e outros que faziam parte de sua comunidade.
Nesta mesma noite ou na noite seguinte tinha início à segunda parte do ritual com o sacrifício dos animais oferecidos aos orixás. Para então começar os festejos próprios do Olubajé.
Para falar de OLUBAJÉ é preciso me reportar ao início do século XX até os meados dos anos noventa, quando este ritual e suas oferendas eram sinônimos de fé, amor e paz. Este era o momento pelo qual às comunidades que professavam o candomblé reuniam seus adeptos e simpatizantes para festejar o deus das doenças de pele, Obaluayê. Momento este que seria aproveitado para agradecer a ele a proteção recebida contra todos os tipos de doenças e também para pedir paz e saúde para sua vida como para os seus. A comunidade e seus simpatizantes se reuniam na maior união e comunhão de fé para preparar os alimentos para um abundante banquete que seria oferecido a todos os presentes nos festejos em homenagem a Obaluayê. Este era um momento de reflexão em busca de saúde, paz, liberdade, compreensão e união. Ocasião de extremo respeito, pois ali estavam também em busca de milagres para alguns males que estivesse a afligir, não só a si como para os seus. Sabiam também que este era o momento único no decorrer do ano que todos tinham com exclusividade não só agradar e reverenciar o Deus da peste e das doenças de modo geral, como também cantarem seus lamentos, dançarem, além de serem agraciados com um rico repasto dedicado a ele.
A PALAVRA OLUBAJÉ
Tive o privilégio de nascer e me criar dentro de terreiros de candomblés não convencionais escutando os dialetos tribais que eram ágrafos, tonais e expressados em muito por elisão. O yoruba não é um idioma e sim um dialeto com muitas variações, dependendo da região que o mesmo é falado, sendo assim, o muito que já foi escrito deve-se aos colonizadores do continente africano e sempre levando em conta à gramática dos colonizadores. Fico pasmo quando algumas pessoas intituladas de zeladores de orixá dizem sobre o significado da palavra olubajé. Para eles olubajé quer dizer podridão. Agora peço que pensem nisso e respondam a vocês mesmos: acreditam que os escravos e seus descendentes iriam durante cem anos fazerem peregrinações, esmolarem, enfim todo tipo de sacrifício para reverenciar os seus deuses com um banquete de alimento podre ou de componentes para despachos e limpeza de corpo? Pensem nisso!
Ademola Adesoji, em seu livro “Ifá-A Testemunha do Destino e o Antigo Oráculo da Terra de Yorubá”, escreve: bàjé = estragar.
Dr. Eduardo Fonseca Junior, grande mestre africanista e historiador em seu “Dicionário-Yorubá (Nagô) Português”, escreve: bàjé = corromper, estragar (agora como corruptela afro-brasileira); bájé = menstruação e bajé = comer com alguém. Assim como outros escritores fidedignos, nenhum coloca olubajé como elemento de despacho como alguns acreditam e fazem questão de passar para os incautos.
Então, vejamos:
Bajé = convite para comer.
Olu = senhor, mestre, dono.
OLUBAJÉ = CONVITE PARA COMER COM O MESTRE.
Termo original: OLU BA NI JÉ = O MESTRE NOS CONVIDA PARA COMER.
Com a elisão o I é derrubado, ficando apenas OLUBANJÉ = COMENDO COM O MESTRE.
Portanto, é um absurdo o que alguns “babaloríxás, yálorixás” que por total ignorância praticam e o que é pior estimulam seus seguidores a transformarem as oferendas dos orixás, alimentos sagrados em elementos de despachos como infelizmente assistimos nos dias de hoje, vemos alguns “zeladores”, ekedes, ogans, yawos, etc. no ritual de Obaluayê, de Omolu receberem este mesmo alimento sagrado envolvido na folha de mamona e em vez de comerem um pouco que seja passarem no corpo como se estivessem se descarregando, ou ainda olharem para seus “zeladores” com ar de deboche e depositarem as mesmas no cesto das sobras. Meu Deus! Essas pessoas não têm respeito nem a si próprio nem a casa que está visitando, não tem respeito ao culto que dizem praticar e muito menos aos orixás! Ou são totalmente ignorantes, ou então se fazem este ritual em seu barracão as comidas são tão malfeitas, tão mal temperadas, com total falta de higiene, que se torna impossível de ser degustada, servindo apenas de elemento de limpeza de corpo, como vemos por aí.

UM MANÁ DOS DEUSES

OBALUAYÊ: deus da peste, da varíola, da catapora, das doenças de pele, etc.
Seu banquete era e é composto de um tipo de comida específicos para cada orixá, e de dois ou três tipos especifico para ele, além disso, os animais anteriormente sacrificados em sua homenagem. Tudo deve ser preparado com muito amor, carinho e respeito; tudo muito bem cozido e condimentado, a base de: camarão defumado, cebola, gengibre, noz moscada, kioiô, gergelim, gemas de ovo, sal, azeite doce, azeite de dendê, etc. O necessário para que o seu banquete se torne não só o mais saboroso possível, como também medicinal pela ação de ervas, raízes e frutos contidos no seu preparo.
Enquanto as pessoas filhas de yabás se desdobram no preparo das comidas, um outro grupo colhe folhas de mamona as lava e as enxuga para só então colocá-las em um balaio para que nelas sejam servidas as comidas.

DISTRIBUIÇÃO DOS ALIMENTOS

Este era e é um momento mágico, que todos esperam, o qual tem início logo pós as louvações com cânticos e danças de todos os outros orixás. Neste instante começa o ritual do OLUBAJÉ. Quando então, ao som dos atabaques, vão saindo do quarto de santo onde as oferendas estão arriadas e imantadas pela energia dos orixás e pelos orins e àduras (cânticos e rezas). Em primeiro lugar vem a yalorixá ou babalorixá com seu adjá puxando o cortejo; em segundo uma yabá carregando uma ou duas esteiras, em terceiro um filho (a) de santo carregando o balaio contendo as folhas de mamona, e em seguidas, filhos e filhas, ekedes, ogans, etc. trazendo sobre suas cabeças as panelas, oberós ou bacias contendo os alimentos, os quais devem ser depositados sobre as esteiras estendidas no centro do barracão, para serem distribuídas a todos iniciados ou não. Após comerem o que desejarem junta as pontas da folha que pode estar totalmente vazia ou não e rodam em torno da cabeça três vezes, para só então depositarem dentro de outro balaio que já está a disposição para este fim, pois tudo faz parte das oferendas e logo no amanhecer do dia seguinte irá ser entregue às águas ou as matas.
Outra fato importante, é que o cântico, tanto da saída do quarto com os alimentos sobre a cabeça, como enquanto se alimentam até o final da distribuição dos mesmos quando se dá por encerrado este ritual deve ser este:

E ajeun bó
Olubajé ajeun bó

E, contração de èyi = isso, isto, este, esta.
Ajeun = comida, comer.
Bó = alimentar, comer.
Olubanijé = Olubajé = convite para comer com o mestre.
Ajeun = comida, comer.
Bó = alimentar, comer.
Tradução: ISSO É COMIDA PARA NOS ALIMENTAR, O MESTRE NOS CONVIDOU PARA COMER.

COMIDAS OFERTADAS AOS DEUSES

Cozinhar para os orixás, com certeza é um dos assuntos mais importante no que diz respeito à cultura. Para isso é preciso ter grande conhecimento sobre a culinária afro-brasileira para exercer esta função. É preciso conhecer os gostos de cada um dos orixás em particular, dos escravos dos mesmos além é claro dos gostos dos òdús que os acompanham.
As comidas de origem africanas, em princípio eram usadas aqui no Brasil para regalo dos senhores de escravos os quais tinham não só o prazer de deglutir, mas de se exibir como o senhor r cozinha da comarca.nham naque possuía a melhor cozinheira, a melhor cozinha da comarca. Estas mesmas comidas, quando os senhores permitiam, também eram servidas nas festanças dos negros escravos, que por agradecimento aos deuses por terem o direito de fazer as suas festas, ofereciam os primeiros pratos aos deuses. Assim como é do conhecimento de muitos, estas comidas sempre foram bem condimentadas e preparadas com bastante requinte, todas as bases de camarão, amendoim, castanhas, gengibre, gemas de ovos, azeite de dendê, azeite doce, ervas, etc. Portanto isso mostra o grande contraste com as comidas que alguns barracões oferecem para os orixás, algumas além de serem mal cozidas, não contêm condimento algum. Ao fazer a comida para oferecer aos deuses é preciso ter conhecimento, respeito e amor para o que está se propondo a fazer. É bom se observar que nem todos estão preparados nem com conhecimento, nem psicologicamente e muito menos espiritualmente para estar em uma cozinha para fazer comida tanto para os orixás, como para os exus ou os òdús. Mesmo porque não é só preciso saber cozinhar é necessário saber separar e definir uma comida que serve para o bem de uma que pode provocar o mal. Outra coisa também é a forma de servir as comidas em vasilhas apropriadas para cada orísa, exu ou òdú. Outra coisa importante também é conhecer as comidas que entra nos gostos de todos. Alguns exemplos:
Milho branco de canjica:
Para Oshala milho branco (ado) quando cozido na água chamado ágbadô.
Milho branco cozido e escorrido misturado com creme de arroz, açúcar, cravo, noz moscada, leite de coco, água de flor de laranjeira e o chá do cravo, canela e erva doce, formando uma mistura bem consistente que de para cortar é chamado de lelê.
Este mesmo milho com os temperos acima e bastante caldo chama-se mungunzá e serve não só para Oshala como também para outros orixás.
Milho branco escorrido e misturado com cebola, camarão seco, noz moscada, feito no dendê é o axoxô de Oshumare.
Algumas comidas são feitas com pedidos de saúde, dependendo do problema de cada um, como por exemplo:
Rolete de cana sarango para Òshún.
Dengé de carimã para Yemonjá. (mingau ralo, que pode ser feito também de ágbadô socado e peneirado e levado com os mesmos temperos do lelê).
21 acarajés para Yansan.
Efó de mandacaru para Shàngó e Ewa.
Fruto do dendê cozido para Oshumare e outros.
Etc.
Assim como para os casos de amor temos alguns exemplos, como:
Omolokun dado para Òshún com sete gemas cruas como enfeite e regado com bastante mel e entregue nas águas.
Apeté feito com inhame cará para Yemonjá, enfeitado com três gemas cruas e regado com azeite doce e entregue nas águas.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

LIBERDADE SEMPRE!



O interesse de Portugal pelo Brasil começou com a extração do pau-brasil, árvore na qual se podia extrair um precioso corante destinado a manufaturas de tecidos na Europa. Alguns povos indígenas no início, até concordaram em cortar a madeira e levá-las até o litoral em trocas de prendas que lhes agradavam, mas os índios viviam livres e tinham sobretudo o espírito livre, e quando se viram obrigados a trabalhar em função deste comércio se rebelaram, as guerras e conflitos se multiplicaram. Logo a saída foi substituí-los por negros africanos. E os portugueses, encontravam facilidade em usar o escravo africano, já que desde 1443 faziam uso desta mão de obra, como afirmam os livros didáticos. Esta substituição encontrava base na própria tradição africana que já tinha o costume de escravizar seus prisioneiros de guerra, chefes de tribo tinham o costume de capturar e escravizar pessoas de tribos inimigas, não que tivessem vindos pra aqui só prisioneiros de guerra, muitos foram capturados ilegalmente por assim dizer, às vezes trocados por bebidas, armas, tecidos, etc., outros por terem cometido delito considerados graves como o adultério e assassinato. Com a introdução da cana-de-açúcar aqui no Brasil no século XVI aumenta o tráfico de escravos que aqui chegavam em condições subumanas, quando conseguiam chegar, muitos não resistiam aos maus tratos nos navios negreiros ou tumbeiros e morriam, e eram então, simplesmente descartados no mar.
É interessante comentar o fato de se dizer, em alguns livros de História do Brasil que para Bahia foram enviados os escravos de Guiné, e para o Rio de Janeiro e Recife os negros vindos da atual Angola, Congo e Moçambique. A bem da verdade acima ou abaixo da linha do Equador todos os negros eram considerados “Da Guiné”, portanto eram de uma região bem ampla. Porém, é mais provável serem do Congo os primeiros escravos negros a chegarem aqui no Brasil. Para só depois de cinquenta anos chegarem aqui os negros vindos da Costa do Ouro, Dahomey e Benin.
Os escravos que aqui chegavam eram oriundos de várias partes da África. Pertenciam a etnias diversas como os Bantos, Edes, Nigritos, Lubas, Mussurumins, Benguelas, Cabindas, Ashantis, Ijeshás, Óyòs, Zulus, Haussas, Moxi-Congos, Mandingas, Fantis, Endembos, Minas, Fons, Ijebus, Ibos, Krobos, que perfaziam a um total estimado em mais ou menos 280 etnias. Logo, podemos concluir que traziam diversas formas de organização social, política e cultural. Imaginem então o choque do escravo africano quando aqui chegava que além encontrar um mundo totalmente estranho e hostil, já havia perdido seus familiares. Foram separados pais de filhos, marido de mulher, vendidos para destinos diferentes, sua comunidade totalmente perdida, arruinada.
E quando chegavam à senzala, os escravos ainda tinham que conviver com pessoas de etnias diversas, com seus dialetos e costumes contrários ao seu. Era de se esperar então, que para se comunicarem entre si, que houvesse uma aglutinação de dialeto e cultura, e foi o que aconteceu.
Além de ter sua identidade de certa forma desvirtuada, o escravo ainda tinha que enfrentar as péssimas condições no trabalho, alimentação insuficiente, higiene precária, sem contar com os castigos físicos. As mulheres escravas em nada eram poupadas, algumas trabalhavam nas lavouras, outras no trabalho doméstico atendendo a vontade das esposas e filhos do senhor, e ainda eram obrigadas a satisfazer sexualmente seus donos brancos. Por causa disso, e para não terem seus filhos a mercê de seus donos, muitas provocavam aborto, tanto sendo filho do senhor branco como de seu irmão de cor.
A reação a esse tipo de vida dependia do escravo em questão, uns agiam com submissão aceitando pacificamente tudo que lhes era imputado. Outros se entregavam a uma depressão profunda (banzo) que na maioria das vezes os levavam a procurar a morte. Todavia outros se revoltavam ferindo ou matando seus algozes, queimando canaviais, sempre a procura da sonhada Liberdade. Os que conseguiam fugir procuravam resgatar a sua vida qual era na sua Mama África, com seus preceitos, costumes, tentando assim preservar o que restava de sua cultura africana nos quilombos.
Voltando a aglutinação de cultura, acontecida tanto nas senzalas como nos quilombos. Creio ser de conhecimento de todos, que os escravos eram proibidos de manter seus costumes, rituais e tradição. Para disfarçar seu culto a seu Deus Todo Poderoso (Olorún, Lembá, Orunduze) e seus deuses intermediários, se escondiam atrás dos santos católicos para poderem assim render homenagem a seus deuses de origem. Fazendo um sincretismo religioso entre os santos católicos e os deuses africanos. É evidente que isso não aconteceu isoladamente, os escravos de etnias e culturas diferentes se uniram em prol de poderem sobreviver através de sua tradição. E assim nasce o Candomblé com suas preces e cânticos a seus Orixás com pedidos de Saúde, Proteção e principalmente Liberdade. De cunho social, religioso e político. Denunciando seus sofrimentos, perseguições sofridas; os planos de ataques a seus inimigos, de fuga; o cotidiano que tinham que enfrentar. Um Candomblé Afro-Brasileiro, que só aconteceu porque houve entre os negros africanos uma união de pensamentos, que tinha como intenção maior preservar suas origens culturais, e que na falta de seus sacerdotes primitivos, não se importavam em se adaptar a sacerdotes de outras etnias, o mais importante era conseguir, fosse como fosse, conservar a sua religiosidade e através dela conseguir a tão almejada Liberdade. Portanto, o que podemos concluir é que na realidade fica difícil responder com precisão a pergunta que muitos adeptos do Candomblé gostam de fazer: Qual é a sua nação? Será que alguém é capaz de responder a isso com precisão? Ou na verdade o Keto possui dogmas do Angola, do Gêge e vice-versa? O Candomblé na realidade é uma reunião de várias etnias e culturas africanas, que aqui no BRASIL teve como fundamento principal a busca pela LIBERDADE, no seu sentido mais amplo possível, pois engloba a LIBERDADE FÍSICA, a LIBERDADE RELIGIOSA, a LIBERDADE CULTURAL.
Muitos cânticos que fazem parte do Candomblé traduzem com extrema maestria o negro escravo em sua busca incessante pela Liberdade, como por exemplo:

Ògún ni tó kó bó àlé
Ariwo lòré
Ògún ni tò kò bò alé
Ariwo lòré

Texto: Ògún é suficiente para nos mostrar o caminho para fugirmos a noite. Temos um amigo e clamamos (por ele). Ògún nos ensina a colocar tudo em ordem e o idolatramos e clamamos toda noite por nosso amigo.

È'níhà gògò òwurò
Àjà lewò
Orò dìde òsi ríhe ogun àkòró
M’àbò wúre ìróko
E níhà aşálè
M’àboò wúre o

Texto: Vós ireis para o lado de lá, para preparar os bastões para os frutos e colocá-los no depósito pela manhã. (Os deuses) são muito generosos. Nós precisamos ter saúde para crescer e assim, poderemos resgatar o que de nós tiraram; (tudo aquilo que pertencia aos nossos antepassados: a liberdade, a cultura, a tradição e outros legados). Lutaremos pela nossa liberdade e pelo direito de igualdade. Logo, logo estaremos retornando e então, rogaremos aos mais velhos pelas bênçãos dos deuses com muito aferro. Agora, posso garantir-lhes.

Awa dé ló d’oni’o
Awa dè ló d’òni’o jèlénké
Òdúnmòdún là jíjìnna tilè wé
Awa dè lò d’oni’o jèlénké

Texto: Nós partiremos daqui, e de hoje em diante, cultivaremos o nosso próprio sustento. Unidos faremos as mudanças necessárias. Há muito tempo atrás, sonhamos em ver o sol e a lua nascerem. Com liberdade e em um lugar muito distante ficaremos bem. Nós hoje somos bem unidos.

Yé yèyè yèyè òkè o!
Yé yèyè yèyè òkè o!
Àilãlà ké àlá kúré
A ibènã mõkùn ãbò
Àilãlà ké àlá kúré
Aibere mõkùn ãbò o!

Texto: Farei todas as vontades à minha graciosa mãe nas colinas! Agradarei à minha graciosa mãezinha de todas as formas nas colinas! Estou acostumado com aquela imensidão infinita, lá é o lugar de meus sonhos, onde me escondo e tenho proteção. Naquela imensidão infinita sou favorecido em todos meus sonhos, até os que não foram pedidos, sim lá sinto segurança para me esconder!

Do ano de 1900 a 1960, a cultura geral aqui praticada sofreu algumas modificações, e não distorções, para poder escapar das repressões. Isso me faz lembrar o que me contavam sobre uma das figuras asquerosas do sistema repressivo contrário ao candomblé e ao seu povo, o comandante ou “delegado” Pedrito, que se pode de certa forma até compará-lo a Jorge Velho com relação a Palmares.
Pedrito era muito temido pelos curandeiros. Filho de Xangô carregava consigo o sadismo e o extermínio em seus olhos; aterrorizava tanto os negros feiticeiros que ganhou uma cantiga com seu nome que alertava as comunidades de sua chegada, que era assim:

Parem com o atabaque
Pedrito vem aí
Ele vem gritando
Kao kabiesi!

A parem com o atabaque
Que vou dá a despedida
Eu não sou fifo pra engolir tanta torcida
(fifo era candeeiro de querosene, e a torcida era o algodão feito em corda no qual se acendia o fogo).
Estas cantigas entre tantas outras foram cantadas de 1910 a 1930, até que no final de 1930, Pedrito sucumbiu perante um toque de Xangô, onde ele e seus asseclas haviam ido para acabar com o festejo e castigar a todos indiscriminadamente. Segundo a narrativa, dos mais velhos.

Em pleno século XXI, voltamos àquela época ao sermos coagidos a abandonar nossa fé. A Intolerância Religiosa, infelizmente se mostra novamente presente como no tempo da escravidão. Talvez pior, pois hoje não é o senhor branco o único algoz, mas muitos descendentes de africanos que rejeitam sua cultura primitiva. E em nome de Jesus se tornam os novos Inquisidores, procurando obrigar com perseguições absurdas, os que cultivam a cultura a seus Orixás de origem, a abandonarem seus ritos. Torna-se primordial então, olharmos para trás e pegarmos como exemplo o que os nossos ancestrais passaram, e como o Candomblé serviu perfeitamente aos propósitos daquela época. As antigas associações de Candomblé usavam seus poderes para denunciar as condições sociais, culturais, políticas e estruturais de seus adeptos. O Candomblé foi uma arma de denúncia, defesa, e ataque a tirania da escravidão. Tentemos, hoje, trazer nossos barracões, associações, também com elevados propósitos de nossos ancestrais. Tratemos nosso Candomblé com respeito, dedicação, mantendo as tradições, mesmo que tenhamos que adaptá-lo a realidade e algumas necessidades dos dias atuais. A União se faz necessária, só assim conseguiremos vencer esta absurda INTOLERÂNCIA RELIGIOSA.
Mais uma vez buscando pela nossa LIBERDADE SEMPRE!

terça-feira, 21 de abril de 2009

EWÉ E EGBÒ (FOLHA E RAÍZ)

O conhecimento de folhas e raízes sempre foi fundamental para a cura de doenças dos escravos nas senzalas e fora delas. Conhecimento este que até as crianças tinham muitas vezes o domínio desta cultura. Era comum usarem o leite do pião branco em seus machucados e quando era maior o ferimento sabiam que os grãos de mamona socados com a folha do pião roxo, pião branco e do saião formava um excelente remédio que de imediato parava com a dor e a cicatrização era rápida.
As casas que ainda por respeito aos seus antepassados cultivam esta cultura natural e de grande fundamento devem ter o conhecimento das folhas de cada orixá, tanto para usar na cama do ìyawó como para curar seus males. Toda erva pertence à Òsányin que as cede a outros orixás.
Cada orixá atrai um tipo de mal de senzala, logo é preciso que se saiba em que parte do corpo se encontra a doença que queira curar.
Os filhos de Òşun têm problemas de coração e estômago e às vezes de barriga; logo para curar estes males, sem risco de prejudicar outras partes do corpo. Assim deve-se usar oriri para o estômago e barriga, o elevante (colônia) para o coração e para controlar o resto do organismo a tanchagem.
O oriri serve para tirar toda a inflamação interna e ao tomar o chá desta erva para limpeza interna sobrecarrega os rins, pois os mesmos dão passagem para as “sujeiras” trazidas pelo oriri, então para que os rins não fiquem com deficiência usa-se a tanchagem para regular.
Os filhos de Yemonja sofrem de problemas na barriga e para curar este mal se usa o macassá, a salsa do brejo, o alibu. Entretanto, como estas ervas além de operar como elemento de cura para os problemas de barriga de modo geral, também age como calmante coisa esta desnecessária para muitas pessoas, pois em muitos casos estas ervas são capazes de esfriar as pessoas, então para que isso não aconteça se usa a nêgamina como elemento de controle junto aos nervos das pessoas, pois ela usada como remédio além de ser quente é laxativa.
Os filhos de Yansan têm problemas de pressão e são incapazes de descreverem o grau de calor que são acometidos, são nervosos e podem ser sifilíticos, então para exterminar estes problemas se usa o bete-roxo, a arnica, o alecrim do campo, o maracujá. A arnica para sífilis e o maracujá para controlar a pressão, o bete-roxo para os nervos e distúrbios orgânicos de modo geral.
Os filhos de Ògún sofrem vícios e costumes que os pode levar a ter problemas pulmonares. O uso da aroeira, do manacá, do quitoco é essencial. Como o manacá e o quitoco são laxantes e podem prejudicar o intestino se usa o sangue-lavô (cana do brejo) para regular o intestino e o fígado.
Os filhos de Şàngó costumam sofrer com problemas na garganta e nos testículos, além de fraqueza nas pernas. Para curar estes males se usa a erva de passarinho e a tanchagem para a garganta; o ojuá, o cajueiro branco e a folha do algodão para os testículos. Apesar de ser contrário ao oríşa se usa mulungu para a fraqueza das pernas. O mulungu é contrário a Şàngó porque nela residem alguns eguns, tornando-se, portanto avessa à expectativa deste orixá, mas accessível ao tratamento das fraquezas nas pernas.
Os filhos de Omolu e Bessem sofrem de doenças da pele, fígado e dos rins. Para que não sejam vítimas destas doenças é bom recorrer às folhas de cajá, cajueiro branco, capeba, imbu, imburana, erva-cidreira, carrapixo, catuaba, cana-mirim. Como o olho da imburana e a erva-cidreira são prejudiciais para a concepção deste orixá e para a potência dos que as usam, se faz uma cobertura com as folhas cinco pontas com aroeira branca e a resina da banana prata. Todas estas ervas preparadas em três infusões separadas, cada infusão obedecendo a um tratamento para um tipo de mal sendo, porém as três infusões em tratamento consecutivo.
Os filhos de Oshossi sofrem com problemas na cabeça, no estômago e leve deficiência nos ossos e no coração. Para estes males chá de maracujá mirim, maracujá assu, baco-paru, jaca-de-pobre, maçaranduba. Mas como o maracujá é calmante levando para os que usam sem regras e sem necessidade uma grande prostração, se usa como reconstituinte a guabiraba, a tapia e o quitoco.
Os filhos de Òsányin sofrem de “quentura” no sangue, problemas nas vistas. Quando não engordam demais, emagrecem demais. O tratamento consiste nas ervas mais corriqueiras como: capim-caboclo, capim-limão, orvalho do capim-gordura, a tanchagem, o cipó-cheiroso, o girassol, o chapéu-de-couro e a erva de santa Luzia.
Os filhos de Nanan geralmente sofrem de tudo ao mesmo tempo, pois são condicionados a todos os tipos de doenças, mas tudo de rápida passagem. Suas ervas de uso são: erva de santa Maria (mastruz), capim-limao, arruda, guiné, alecrim do campo, alecrim de tabuleiro, alecrim grosso, o mata-pasto e o caroço do mamão.
Os filhos de Oshala sofrem de reumatismo, problemas na cabeça, de visão e sangue. Recorrer ao olho de morici, da imbauba, da imburana. Uso da capeba, capueraba, casca-dante, velame e de dois tipos de algodão, oriri e alfavaca miúda.

QUEM É ÒSÁNYIN ?



Òsányìn, Ossanha ou Òsãni, divindade das folhas e da cura das doenças. Oriunda da cidade de Offá (Arco), reduto de seus últimos vestígios. Associada pelos que cultuam o gêge à Òrúnmìlà, consegue a partir de então se masculinizar, recebendo o nome de Baba’Ewe, isso na África de dois a três séculos atrás, e tendo o seu culto ritualístico já extinto em sua terra de origem, segundo alguns etnólogos, antropólogos, sociólogos e historiadores africanos. Dizem que a extinção de sua cultura deveu-se pela escassez ou até mesmo a extinção da selva. Já outras etnias aqui escravizadas, alardeavam que seu povo, os dominadores da cultura Òsãni, sucumbiram tanto pela escassez da floresta, como pelas guerras políticas e culturais inter-regionais e tribais.
Com tudo isso na África do século XIX, já se sabia pouco sobre a sua existência, o seu culto e a sua cultura, e aqui no Brasil, idem. Os poucos escravos que trouxeram e que aqui nos legaram um pouco de conhecimento não eram Babalòsányìn, e sim Olósányìn, adeptos iniciados, seguidores secundários do culto a esta divindade. E mais, estes mesmos Olósányìn e seus iniciados aqui eram perseguidos e ironizados. Criticados abertamente por outras etnias as quais o chamavam de “vira-folha” ou de “filhos da patioba”, entre outros adjetivos comparativos a bissexualidade. Para os curandeiros do culto a Òsányìn, a patioba não é uma cobra, e sim uma folha de grande mistério que tanto mata como cura; a patíioba contém um alto teor de acidez e veneno. Nos rituais de feitura ou outras obrigações para esta divindade se não tiver a patíioba, awede, o alibu, a baba-de-boi entre outras tantas ervas consagradas a este orixá, mesmo que de menor valor em sua cama ou no chão para suas oferendas, com toda certeza, ali não estará o orixá Òsányìn. Pode ali até ter algo que possa ser identificado como um instinto possessivo, porém jamais este orixá. Por ser um orixá assexuado ele toma para si a sexualidade de seu filho, ou seja, se for em homem ele é masculino e em mulher é feminino. Assim sendo, os babalórisás, as yalórişás e os Olósányìn se assim não pensarem e agirem com certeza não estarão fazendo culto a Òsányìn, mas sim a uma farsa.
Observação: há um verbete que era cantado em quarto de segredo, nos anos cinqüenta do século XX para Òsányìn, cântico de juramento, que depois se tornou um cântico um tanto vulgar, cantado erradamente para Ode, no Rio de Janeiro, São Paulo, e quem sabe até na Bahia.

Òde, subs. = rua, lado de fora, relento.
Pami, v.t. = não ter sentimento, ter o coração fechado.
Sã’bura, adv. e v.i. = instantaneamente jurou, fez a jura.
Awoyo, subs. = a ninfa, que qualifica tantoYemaja, como Òsányìn..
Awede, subs. = planta, erva pertencente à Òsányìn, para consagração de orixás.

Ficarei aqui só na tradução didática para não descaracterizá-la, uma vez como já citei que hoje em dia ela é cantada para Ode ou Oşhossi; não que ache errado, mas fica complicado, pois na verdade o verbete original fala de òde, que significa rua, relento, lado de fora e não da divindade Ode.
Estendendo o assunto a respeito das folhas para consagrar Òsányìn, os jêjes usavam ou ainda usam uma erva chamada de “euriosayin”, que nunca tive o privilégio de conhecer. Confesso-me totalmente ignorante ao fato de que venha esta erva substituir todas as outras, salvo as ervas chamadas de enxerto, desfazendo assim todo o mal entendido não só da minha parte, como de vários outros zeladores de minha época sobre esse assunto. E que essa mesma erva, “euriosayin” venha produzir em Òsányìn omókonrin (filho homem). Mesmo assim aqueles que dizem fazer ou cultuar Òsányìn, Ossanha ou Òsãni, têm que não só conhecer como saber fazer o bom uso da mesma.
Dentro das raízes gêge, Òsányìn é também conhecida como Adínà Axédà, Aşeda, Akàsù, Ipákùrò e Asílóba, etc. Sendo assim, como Oshossi e Omolulu são auto afirmados como orixá masculino aqui no Brasil, se é que houve esta transformação, Òsányìn se macho, se afirma como fêmea neste caso, dependendo da genealogia progenitores dos iniciados para este orixá, que poderá ser consagrado e cultuados na condição de dual, hermafrodito, mas nunca como masculino.
Para levantarmos uma discussão sobre o orixá Òsányìn, uma vez que os babalòsányìns asseguram que “ele” é o deus das folhas, e lhe dão alguns vícios e costumes e nada mais, a despeito de todas as outras divindades que possuem a sua prole. Intitulam deus das folhas em detrimento do seu verdadeiro ser.
Para mim o verdadeiro espírito criador da floresta, da vida das plantas, daninhas ou não, das sementes que podem ficar incubadas de forma natural na terra anos a fio antes de germinarem e tornarem-se belas árvores frondosas; transformando todo o ar e proporcionando vida na terra. Há cem milhões de anos atrás, data esta estimada pela Ciência para o surgimento das primeiras plantas terrestres, surge o verdadeiro ser Òsányìn. Assim como todos os orixás endeusados que tiveram os seus antepassados e proles, a divindade Òsányìn não foge a esta regra, mesmo porque a mesma não surgiu do nada e nem a sua existência é ou foi inútil.
Òsányìan, orixá hermafrodito, como as sementes, deus das folhas? Deusa das ervas, da vida e da morte, protetora de todos os rebentos, e que segundo Minale ou Minanmunangue nos dizia: “Òssányìn divide o seu templo com Odanyin, orixá masculino e com Lilosányìn (Lirosányìn), orixá assexuado, uma espécie de omoòsányìn, orixá sem órgão sexual ou sem sexo definido". Mas como dizem que Òsányìn é o deus das folhas; e não que ele é a vida das folhas, não analisem esta divindade pelas folhas, mas sim pela sua origem (origem das folhas). A outra grande confusão está na nomenclatura afro-brasileira e na interpretação da mesma. Confundem babalosányìn, o homem, capitão-do-mato com a divindade Òsányìn, cuja dinastia: Òsányìn senhora absoluta; Odanyìn o sexo oposto e Lirosányìn o produto desta união. Òsányìn seria temida pelos caçadores que a chamavam de caipora ou caapora cuja entidade quando aborrecida fazia eles se perderem em seu seio, e só quando passasse a sua ira é que os deixava encontrarem o caminho de casa.

segunda-feira, 23 de março de 2009

JOGO DE BÚZIOS


A complexidade do jogo de búzios está no conhecimento do campo de ação dos odùs, e para que possa assim combatê-lo, incentivá-lo ou neutralizá-lo.
Os odùs são consciências astrais que participaram da criação do Universo. Cada pessoa traz um odù de origem e cada oríşa é regido por dois ou mais odùs que podem ser positivo, neutro ou negativo. É importante destacar que independe se este odú pertença ou não ao oríşa de origem de uma pessoa, por exemplo, uma pessoa pode ser de Òşun e ter influência dos odùs de Yansan em seu destino. Na realidade um odù paga tributo a outro pela invasão do campo de ação desse mesmo odù.
Para nós, simples estudiosos desta cultura, é imperioso ter conhecimento dos odùs que eram conhecidos integralmente pelos famosos babalawôs,homens que na África nasceram e morreram levando consigo estes conhecimentos. Eles levavam de muitos anos infiltrados nestes estudos a ponto de se adaptarem do jogo de Opelê ao jogo de Ifá que contém 365 peças, através do qual eles professavam o destino de todos os seus protegidos. Podiam também, contar a vida de um desconhecido da hora de seu nascimento até a data presente sem errar um ponto se quer.
Hoje nesta época em que vivemos tornasse praticamente impossível almejarmos ser um Oluwô, mas sim ter um aprendizado necessário para a nossa vida contemporânea e futura.
Pelo que aprendi por verdadeiros mestres ao longo de minha vida num jogo búzios, obi, orobo a quantidade de odùs são assim distribuídas:

37 odùs: respondem no jogo de 37 peças, podendo chegar a 49 odùs.
27 odùs: respondem no jogo de 27 peças, podendo chegar a 33 odùs.
13 odùs: respondem no jogo de 16 peças, podendo chegar a 17 odùs.
09 odùs: respondem no jogo de 11 peças.
07 odùs: respondem no jogo de 7 peças.
09 odùs: respondem no jogo de obi (noz de cola)

§ Observação: O jogo de 11,9, 7 e 4 peças são os chamados jogos de sim ou não, e seu campo de ação é bem limitado.

O Campo de Ação de Alguns Odùs:

Onikansã a labareda boa ou má, e Odi o desastre regendo Èşu.
Ejiokô o nascimento, e Meji a caloria regendo Ibeji, Vunji e Êre.
Gunda Masá as cores, Ossá a doença do sangue, Orossun a dualidade e Ossatura o narcisismo regendo Logun e Logun Edé.
Assá o fio da navalha e Ôfurin os distúrbios e os desencontros familiares regendo Yemonja.
Aşetura a lentidão e Iká a morte presente regendo Bessem e Òşumare.
Obará Kê a paz e Eşeobara a doença espiritual.
Odi Dovarin a fantasia visual e Dodô Ofun perseguição regendo Oshossi.
Etala Metala equilíbrio gravitacional e Ajé Mirilê Ajé problemas monetários e de moral regendo Oşala.
Ofú a psicose e Ejionilê a moradia regendo Omolu.
Etaogunda a amnésia e Ainã o caminho de fogo regendo Ògún.
Aşetura Bessa a força bruta, Aşeturá as perdas e Ossaturá o desastre regendo Şàngó.
Laansã Laaşe a união e Ejionilê portas fechadas regendo Òsányìn.
Okarã a arma branca e Olokã Ele a viuvez regendo Nanan.
Obara Şekê o eco e Odi o fogo regendo Oya.
Bé Ofun o quebra ossos regendo Baba Egun.
Otubé kotan e Ejionilê o conflito. Domínio de tudo um pouco. Começo, meio e fim regendo Ifá.

Cada dia da semana traz além das características dos odùs que corresponde aos oríşas do dia acrescido também das características dos odùs que responder no jogo.

sábado, 14 de março de 2009

Igbeyáwo (Casamento)

Minha querida filha Valéria de Òşun atendendo ao pedido de sua filha e minha neta Carla de Òşun e de seu noivo também meu neto o ogã Alexandre de Oshossi, me pediu para que eu organizasse um ritual para que eles se casassem dentro da religião a que pertence. Fiquei felicíssimo, pois hoje em dia é muito difícil encontrar pessoas que apesar de serem do Candomblé, se preocuparem em ter sua união abençoada pelos oríşas.
O igbeyáwo foi feito obedecendo às regras de um rito afro-brasileiro, não poderia ter a intenção de copiar um casamento originalmente africano, até porque estamos no Brasil e com a chegada dos escravos vindos da sua Terra Mãe África, eles próprio tiveram que se adaptar a uma nova forma de adoração a seus deuses.
A cerimônia do igbeyáwo foi realizada no dia vinte e dois de novembro do ano de dois mil e oito. Antes deste ritual, no decorrer do mês, os noivos ficaram recolhidos. Foram feitas várias oferendas. A primeira para Èşu o deus da Fertilidade e da Libido. Depois para Ògún com pedidos de harmonia e proteção e por fim Òşun e Oshossi com os pedidos de felicidade, êxito, fortuna, etc.

Início da cerimônia:
O oníyàwó (noivo) sai de seu recolhimento para homenagear os oríşas dançando para Oshossi e Òşun. Após a dança se retira.



Chegada da ìyáwọ (noiva).
Ela é recebida pela sacerdotisa e outras mulheres que lhe veste e enfeitam para que possa entrar no barracão.
Pronta para começar a dançar para Oshossi e Òşun.





O encontro dos noivos:
Juntos dançam para os deuses da fertilidade: Èşu, Ògún e Oshossi.





As alianças:
Os pais da noiva abençoam as alianças. Começa o ritual de compromisso

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Os Primeiros Descendentes de Ódùdúwa

Algumas vertentes supõem que Nimrod um poderoso caçador fenício e Ódùdúwà trata-se de uma mesma pessoa, ou seja, o fundador de Ile Ifẹ e da Cultura Yorubana.
Os descendentes de Nimrod o teriam seguido para guerrear contra a Arábia, e que lá se instalaram por um período. Depois por perseguição religiosa foram expulsos seguindo assim para África. A primeira colonização permanente deles teria sido em Yarba. É interessante observar que Yarba é semelhante ao termo Hausa de Yarriba para Yorubá.
Assim mais uma vez podemos concluir provavelmente que:
 Os Yorubás são do Alto Egito ou Núbia.
 Do Alto Egito foram para Ile Ifẹ (as esculturas conhecidas como “Mármore de Ifẹ” são de estilo totalmente egípcio).
 O Ọpa Ọrañyan, obelisco erguido sobre o suposto tumulo de Ọrañyan tem o talho de origem fenícia.
 Que os yorubás eram súditos do conquistador Nimrod que era de origem fenícia; e que os Yorubás o seguiram até a Arábia, onde se instalaram por um tempo.

Quando saíram expulsos de seu país Ódùdúwa e seus filhos juraram ódio mortal pelos mulçumanos que os havia derrotado e assim juraram vingança. Mas, Ódùdúwa desapareceu¹ em Ile Ifẹ antes que fosse poderoso o bastante para marchar contra eles. Seu filho primogênito Ọkànbi (Idẹkoşerọake) também desapareceu em Ile Ifẹ.
¹Observação: os heróis e heroínas divinizados nunca são citados como mortos, e sim como tendo desaparecido.
Sobraram então sete príncipes e princesas que mais tarde ficaram famosos. Deles é que se originou a nação Yorubá.

 A primeira filha era uma princesa que se casou com um sacerdote. Dessa união nasceu Olowu o antepassado dos Owus.
 A segunda também uma princesa tornou-se mãe de Alaketu, o pai do povo Ketu.
 O terceiro um príncipe que se tornou rei de Benin.
 O quarto era Ọrangun que se tornou o rei de Ila.
 O quinto Onişabẹ ou rei de Şabẹs.
 O sexto Olupòpo, ou rei dos Popos.
 O sétimo e último Ọrañyan que era o pai dos Yorubás ou Ọyọs.
Todos esses príncipes se tornaram reis que usavam coroas para se distinguirem dos vassalos.
É preciso ressaltar que as princesas Yorubás tinham e ainda tem o direito de escolher o seu marido, podendo ser de qualquer classe social. E este fato não impede de seus filhos poderem ser reis.
Ọrañyan era o mais jovem neto de Ódùdúwa, mas também o mais rico e renomado. Como isso aconteceu é contado através de algumas histórias tradicionais.
Uma das versões desta história conta que com o desaparecimento do Rei, o avô deles. A herança foi dividida diferentemente entre seus herdeiros, como se segue:
O rei de Benin: dinheiro (conchas de cowry).
Ọrangun rei de Ila: as esposas dele.
O Onişabe o rei de Şabẹ: o gado.
Olupòpodos o rei dos Popos: as contas (rosários).
Olowu o rei dos Owus; os artigos de vestuário.
Alaketu o rei de Ketu: as coroas.
E finalmente Ọrañyan:nada além de terras.
Alguns afirmam que Ọrañyan estava ausente numa expedição bélica quando a partição foi feita, ficando assim excluído de todos os bens móveis. Porém, Ọrañyan ficou satisfeito com sua porção e imediatamente realizou com extrema habilidade as seguintes reformas:
Ele passou a considerar os irmãos como seus inquilinos que viviam na terra que pertencia a ele, logo, pelo aluguel Ọrañyan recebeu: dinheiro, mulheres, gado, contas, vestimentas e coroas, ou seja, tudo o que os irmãos haviam herdado, e como todos eles eram dependentes da terra, já que estavam se alimentando desta teriam que pagar tributo a Ọrañyan.
Além disso Ọrañyan era o escolhido para suceder o pai como Rei na linha direta da sucessão (a razão para isto era que ele “nasceu na púrpura”, quer dizer nascido depois que o pai havia se tornado rei. Este era um costume prevalecente para o “Aremo Oyè”, isto é, o primeiro nascido do trono, sucede o pai.). Para os irmãos foram designadas várias províncias em cima das quais eles governaram mais ou menos independentes, o próprio Ọrañyan foi colocado no trono como Alâfin ou Senhor do Palácio Real de Ile Ifẹ.
Outra história conta que Ọrañyan possuía somente um pedaço de trapo rasgado contendo terra, 21 pedaços de ferro, e um galo. Toda a superfície da terra estava então coberta por água. Ọrañyan pôs a terra que estava enrolada no trapo na superfície da água e após isto colocou o galo que com os pés espalhou a terra; a vasta expansão de água foi preenchida totalmente, e a terra seca apareceu em todos os lugares. Os irmãos dele preferindo se manter na terra seca em lugar da superfície da água, tiveram que pagar tributo anual a Ọrañyan para que pudessem usufruir com o irmão mais jovem, a sua própria porção.
Nota-se que ambas as histórias a terra pertence a Ọrañyan, conseqüentemente a declaração comum “Alâfin l’oni ilẹ” (o Alâfin é o senhor da Terra): os pedaços de ferro representam os tesouros subterrâneos, e o galo como subsista da terra.
Como podemos observar a primeira narrativa parece ser a mais provável, a segunda lembra mais uma caricatura da criação e do dilúvio. Mas é justo mencionar que geralmente a opinião mais aceita é aquela em que Ọrañyan ficou mais próspero que os irmãos devido ao fato de ser um virtuoso, já que eles são determinados por uma vida de licenciosidade desenfreada; e também sem dúvida o fato de ser o mais bravo que todos eles, ele era o preferido para estar sentado no trono ancestral de Ile Ifẹ que era então a capital do país Yorubá.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

OKUTÁ (OTÁ)

Okutá, por elisão Otá = pedra para assentamento de oríşas.


É muito importante que saibamos a diferença entre uma pedra comum e um verdadeiro otá. Pedra é pedra; e um otá é um otá e não pode haver engano, porque um otá de oríşa representa uma vida e, portanto e para tanto não pode haver engano.
É preciso saber a diferença, pois uma pedra comum não tem vida, é morta e, com certeza não pode responder por nenhum apelo.

 Entre um otá e uma pedra comum do mesmo tamanho, o otá pesa mais.
 Segundo me foi dito, um otá tem que ter a forma tal e qual da geração humana. O formato do otá masculino é ao comprido e o feminino redondo.
 Um otá não pode ser quebrado e nem polido.

Otás retirados de rio.
À esquerda oríşa homem (oboró), à direita oríşa mulher (ayabá).

Otás retirados do mar.

À esquerda otá para oboró e à direita para ayabá.



Estes otás podem ser para oríşas tanto fêmea como macho ou que respondam pelos dois sexos.

Os otás colhidos no mar, porém podem ter vários tipos de formatos e ressaltos, a água do mar provoca a erosão que se encube de formar otás especiais. Embora sejam recortados, furados, não perdem sua essência e mantém seu peso e valor.
Abaixo alguns otás marítimos que dependendo de como ele é posicionado, podemos enxergar um animal, um totem, um, coração, um ibi, etc.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

LOGUN OU LOGUN EDÉ, UM ORÍŞA, UMA FÁBULA. DEUS DA METAMORFOSE. DEUS DO SANGUE E DE SUAS DOENÇAS, CIRCULAÇÂO E CURA.

LOGUN OU LOGUN EDÉ, UM ORÍŞA, UMA FÁBULA.

Segundo o que me foi dito pelos negros curandeiros, com os quais convivi também pelos entendidos zeladores de santo de tempos atrás e hoje confirmado pelas minhas pesquisas através dos revezes acontecidos na vida de muitos clientes, filhos e adeptos que me procuram para um conselho espiritual, assim dando lugar a um conhecimento mais profundo das características deste oríşá e seus descendentes.

Os oríşas chamados Logun, para muitos só existe um, que é originário da união de Òşun e Oshossi, às vezes não sabem nem como chamar, se de Logun ou Logun Edé, pois bem, temos aqui os Loguns cultuados pelos negros antigos com os quais muito aprendi.

Devo explicar que apesar de apresentar o nome de oríşás, esses ensinamentos me foram dados através de estudos de òdús que são inteligências astrais que participaram da criação do mundo. Os oríşas regem ou são regidos por dois ou mais odùs que podem ser positivo, neutro ou negativo. Portanto quando coloco estas uniões é preciso que se entenda que não se trata de uma união carnal, mas sim de uma UNIÃO de FORÇAS de ÒDÚS, que tem como origem os òdús do oríşa Òşun.

Como nem todos têm conhecimento do que seja odù optei por dar nomes não dos odús, mas sim dos oríşas regidos por eles. Aprendi com esses mesmos negros que não se zela um oríşa sem o devido conhecimento de seus odùs de origem.

  1. LOGUN – OSHOSSI – ÒŞUN.

Oshossi marido e Òşun mulher. União das forças dos odus de Oshossi oríşa andrógino com Òşún.

  1. LOGUN – ÒGUN – ÒŞUN.

Ògun remador (empregado) e Òşun rainha. União de forças dos odùs de Ògun e Òşun.

  1. LOGUN – ŞÁNGÓ – ÒŞUN. União de forças de odùs de Şàngó e Òşun.

Şàngó pai e Òşun filha.

Então temos três Loguns e esses três em vice-versa, formam seis Loguns, ou seja, na composição acima são Loguns e estes mesmo trazendo a àyaba na frente, ou oríşá feminino: Logun Edé.

Pois bem, seis loguns, com um oríşa conhecido como Ògun Şoroke este porque seis meses de Ògun, seis meses Èşu, é da família dos loguns. Para se fazer este oríşá requer muita sabedoria, muito requinte, porque ele só estará concluído, quando para ele é sacrificado um cachorro.

Destes oríşas e de suas verdadeiras classificações, depende a vida e a sorte de muitas pessoas; primeiro porque existem e na maioria das vezes são ignorados; segundo porque a maioria só conhece o da união Oshossi e Òşun, e por isso não classificam os outros; terceiro porque tanto é difícil sua formação, como para se fazer um oríşa desse. Daí o interesse de muitos em ignorar. Para se raspar é necessário separar as partes de cada um dando o que é da parte feminina à àyaba e da parte masculina ao oboró. Suas curas, suas partes no mokunã (cabelo), seus apetrechos, etc.

Preciso salientar que ao falar de Logun e Logun Éde, eu destaquei Şoroke porque este logun requer todo cuidado e até muito mais que os outros. As miçangas são com as cores de Ògun e alguns pontos e Èşu, mas não a ponto de colocarem dois keles nesta qualidade de Logun, um de contas azuis e um de aço, como já vi fazerem por aí. Esta qualidade de Logun só se faz um kele, que se faz para Ògun – Èşu, por que:

  1. Este Logun não é bissexual e sim um homem que raciocina de duas maneiras, pondo-as em prática de acordo com a força da lua. Esta mudança é de homem bom para um homem mal e não de homem para mulher.
  2. Não é como os outros que com obrigação de um ou três anos dão lugar ao juntó. Mas ele passa a ser Èşu e Ògun para quando der obrigação de sete anos ele descansar e então dar lugar ao juntó.
  3. Ele não passa pela transformação de Logun Ede como os outros e até no orúkó (nome), enquanto os outros trazem nomes de conotação feminina e masculina, ele traz o seu nome só baseado na vida do homem e do diabo.

ORÍŞA LOGUN DA FAMÍLIA DE OSHOSSI E ÒŞUN

ODI DOVARIN E OBARÁ KÊ

Seus pais são Oshossi Ode e Òşun Anirá, representando este o amor livre e ao mesmo tempo o falso amor e o poder profissional.

Logun (Oshossi e Òşun) definição: marido e mulher estando todo o poder deste oríşa nas mãos do homem. Portanto para cultuá-lo nunca foi necessário dividir seu preceito nem seus balés şires (indumentária) e kele. Seu kele e adogun são baseados nas cores dos dois, ou seja, verde e dourado, embora alguns babaloríşas usem o azul e o dourado. Nas mãos traz o símbolo deste amor propagado. Na mão esquerda um ofá, símbolo do amor e da traição. Na mão direita uma adaga ou abebé ou um rekere. Tanto pode usar um adê como um turbante. Para sua feitura que é muito complexa, pois tudo terá que ser dividido a começar pelo batismo até os sacrifícios dos animais. A cabeça (orí) dividida lado direito para Oshossi, lado esquerdo pra Òşun, sendo que o juntó ficará com a parte de trás, enquanto que o escravo e o erê ficam com determinada parte da frente, retirada do pertencente aos dois òdus, que se complementam em um só oríşa.

ORÍŞA LOGUN DA FAMÍLIA DE ŞÀNGÓ E ÒŞUN

AŞETURA BESSA E OŞÉ

Logun (Şàngó e Òşun), este por sua qualidade é filho de Şàngó Aia, oríşa este que para os cultuadores de grande conhecimento carrega Oshala nas costas, não por gratidão, mas sim como castigo por sua traição com o surgimento deste filho.

Şàngó Aiá e Òşun Aleuá: sendo este Logun definido como Şángó pai e Òşun filha. Este obedece às mesmas regras normais dos outros, dividindo sua cabeça, sua pintura e sua roupa. Suas cores são o marrom e o dourado, tanto para seus balés şires como para suas vestes. Na mão esquerda traz o ogbogba (balança) que simboliza as glórias e a traição geração. Na mão direita uma adaga ou uma palma símbolo de seu império. Seu assentamento é muito delicado, por tratar-se de Òşun filha e por assim ser é feito um ao lado do outro. Este oríşa não foge a regra dos outros şàngós em relação a seu assentamento: uma gamela, dentro desta um oberó com ele e ao lado dele, dentro da mesma gamela, o de Òşun filha.

Este oríşa traz consigo uma grande ira em relação a traição de seus familiares. Não é contra ao matrimônio, mas também não é favor. Exige apenas de seus filhos uma reparação para a vida desregrada, condenando, se mulher, só possuir filhos homem e se homem só filhas. Um caso entre mil ele abre mão deste princípio, concedendo o direito a uma modificação e, em geral, seus filhos só encontram a paz e o bem estar quando bem maduros.

Este oríşa é dono do equilíbrio monetário e da economia. Seus filhos são dotados geralmente de grande facilidade para o acerto das finanças.

ORÍŞA LOGUN DA FAMÍLIA DE ÒGUN E ÒŞUN

ETAOGUNDÁ E EŞEOBARA

Logun (Ògun e Òşun), este é filho de Ògun Perere e Òşun Aboto, sendo este Logun definido: Ògun Remador; empregado de Òşun Rainha. Também este obedece as mesmas rergras e fundamentos dos outros. Suas cores são o azul marinho e o dourado. Este como os outros trás em uma das mãos o símbolo da traição uma estrela sobre um cálice e na outra o símbolo do sacrifício, representado por um barquinho a vela com duas espadas cruzadas em seu mastro. O seu assentamento acarreta a mesma imposição do homem, sendo o de Ògun em cima e o de Òşun embaixo.

A mitologia da vida deste oríşa é baseado nos pertences do mar, e geralmente seus filhos são pescadores, marítimos, etc.

Ele é bem favorável da vida a dois, porém vida esta cheia de drama e de conformidade. Seu ponto principal é a vingança. Seus bens são poucos, mas constantes. Nunca nada falta, mas também nada sobra.

Como foi dito que temos sete qualidades deste oríşa temos três no domínio masculino: Logun e estes três oríşas em vice-versa no domínio feminino: Logun Ede.

Os Loguns Edes são oríşas muito meticulosos em tudo, pois nem tudo pode ficar sob o domínio da mulher. E por assim serem, tudo o que diz respeito a eles tem que ser bem divido e bem equilibrado, para que ambos fiquem no mesmo nível pessoal, mas sem que a parte feminina perca a sua primazia. Para que tal aconteça, as coisas seguem este roteiro para qualquer Logun Ede: dois keles, dois adoguns, dois pares de contra-eguns (embora o yawo só use um par), duas senzalas, duas penas de kodidé, dois şaoros, um okutá (otá) representando dois sexos ou dois otás, o cabelo em dois, suas curas muito bem repartidas, sendo que em tudo isso a parte de ayabá fique por cima do oboró e em primeiro lugar.

Suas cores são as mesmas, suas vestes são de ayabá, porém com um laço atrás ou no ombro determinando o direito do homem.

Todos os Loguns Edés tem como princípio o casamento ou o amor eterno. O casamento para seus filhos é a coisa mais importante da vida, todavia não se adaptam com muita facilidade, pois não gostam de receber ordem do cônjuge.

Powered By Blogger