terça-feira, 21 de abril de 2009

EWÉ E EGBÒ (FOLHA E RAÍZ)

O conhecimento de folhas e raízes sempre foi fundamental para a cura de doenças dos escravos nas senzalas e fora delas. Conhecimento este que até as crianças tinham muitas vezes o domínio desta cultura. Era comum usarem o leite do pião branco em seus machucados e quando era maior o ferimento sabiam que os grãos de mamona socados com a folha do pião roxo, pião branco e do saião formava um excelente remédio que de imediato parava com a dor e a cicatrização era rápida.
As casas que ainda por respeito aos seus antepassados cultivam esta cultura natural e de grande fundamento devem ter o conhecimento das folhas de cada orixá, tanto para usar na cama do ìyawó como para curar seus males. Toda erva pertence à Òsányin que as cede a outros orixás.
Cada orixá atrai um tipo de mal de senzala, logo é preciso que se saiba em que parte do corpo se encontra a doença que queira curar.
Os filhos de Òşun têm problemas de coração e estômago e às vezes de barriga; logo para curar estes males, sem risco de prejudicar outras partes do corpo. Assim deve-se usar oriri para o estômago e barriga, o elevante (colônia) para o coração e para controlar o resto do organismo a tanchagem.
O oriri serve para tirar toda a inflamação interna e ao tomar o chá desta erva para limpeza interna sobrecarrega os rins, pois os mesmos dão passagem para as “sujeiras” trazidas pelo oriri, então para que os rins não fiquem com deficiência usa-se a tanchagem para regular.
Os filhos de Yemonja sofrem de problemas na barriga e para curar este mal se usa o macassá, a salsa do brejo, o alibu. Entretanto, como estas ervas além de operar como elemento de cura para os problemas de barriga de modo geral, também age como calmante coisa esta desnecessária para muitas pessoas, pois em muitos casos estas ervas são capazes de esfriar as pessoas, então para que isso não aconteça se usa a nêgamina como elemento de controle junto aos nervos das pessoas, pois ela usada como remédio além de ser quente é laxativa.
Os filhos de Yansan têm problemas de pressão e são incapazes de descreverem o grau de calor que são acometidos, são nervosos e podem ser sifilíticos, então para exterminar estes problemas se usa o bete-roxo, a arnica, o alecrim do campo, o maracujá. A arnica para sífilis e o maracujá para controlar a pressão, o bete-roxo para os nervos e distúrbios orgânicos de modo geral.
Os filhos de Ògún sofrem vícios e costumes que os pode levar a ter problemas pulmonares. O uso da aroeira, do manacá, do quitoco é essencial. Como o manacá e o quitoco são laxantes e podem prejudicar o intestino se usa o sangue-lavô (cana do brejo) para regular o intestino e o fígado.
Os filhos de Şàngó costumam sofrer com problemas na garganta e nos testículos, além de fraqueza nas pernas. Para curar estes males se usa a erva de passarinho e a tanchagem para a garganta; o ojuá, o cajueiro branco e a folha do algodão para os testículos. Apesar de ser contrário ao oríşa se usa mulungu para a fraqueza das pernas. O mulungu é contrário a Şàngó porque nela residem alguns eguns, tornando-se, portanto avessa à expectativa deste orixá, mas accessível ao tratamento das fraquezas nas pernas.
Os filhos de Omolu e Bessem sofrem de doenças da pele, fígado e dos rins. Para que não sejam vítimas destas doenças é bom recorrer às folhas de cajá, cajueiro branco, capeba, imbu, imburana, erva-cidreira, carrapixo, catuaba, cana-mirim. Como o olho da imburana e a erva-cidreira são prejudiciais para a concepção deste orixá e para a potência dos que as usam, se faz uma cobertura com as folhas cinco pontas com aroeira branca e a resina da banana prata. Todas estas ervas preparadas em três infusões separadas, cada infusão obedecendo a um tratamento para um tipo de mal sendo, porém as três infusões em tratamento consecutivo.
Os filhos de Oshossi sofrem com problemas na cabeça, no estômago e leve deficiência nos ossos e no coração. Para estes males chá de maracujá mirim, maracujá assu, baco-paru, jaca-de-pobre, maçaranduba. Mas como o maracujá é calmante levando para os que usam sem regras e sem necessidade uma grande prostração, se usa como reconstituinte a guabiraba, a tapia e o quitoco.
Os filhos de Òsányin sofrem de “quentura” no sangue, problemas nas vistas. Quando não engordam demais, emagrecem demais. O tratamento consiste nas ervas mais corriqueiras como: capim-caboclo, capim-limão, orvalho do capim-gordura, a tanchagem, o cipó-cheiroso, o girassol, o chapéu-de-couro e a erva de santa Luzia.
Os filhos de Nanan geralmente sofrem de tudo ao mesmo tempo, pois são condicionados a todos os tipos de doenças, mas tudo de rápida passagem. Suas ervas de uso são: erva de santa Maria (mastruz), capim-limao, arruda, guiné, alecrim do campo, alecrim de tabuleiro, alecrim grosso, o mata-pasto e o caroço do mamão.
Os filhos de Oshala sofrem de reumatismo, problemas na cabeça, de visão e sangue. Recorrer ao olho de morici, da imbauba, da imburana. Uso da capeba, capueraba, casca-dante, velame e de dois tipos de algodão, oriri e alfavaca miúda.

QUEM É ÒSÁNYIN ?



Òsányìn, Ossanha ou Òsãni, divindade das folhas e da cura das doenças. Oriunda da cidade de Offá (Arco), reduto de seus últimos vestígios. Associada pelos que cultuam o gêge à Òrúnmìlà, consegue a partir de então se masculinizar, recebendo o nome de Baba’Ewe, isso na África de dois a três séculos atrás, e tendo o seu culto ritualístico já extinto em sua terra de origem, segundo alguns etnólogos, antropólogos, sociólogos e historiadores africanos. Dizem que a extinção de sua cultura deveu-se pela escassez ou até mesmo a extinção da selva. Já outras etnias aqui escravizadas, alardeavam que seu povo, os dominadores da cultura Òsãni, sucumbiram tanto pela escassez da floresta, como pelas guerras políticas e culturais inter-regionais e tribais.
Com tudo isso na África do século XIX, já se sabia pouco sobre a sua existência, o seu culto e a sua cultura, e aqui no Brasil, idem. Os poucos escravos que trouxeram e que aqui nos legaram um pouco de conhecimento não eram Babalòsányìn, e sim Olósányìn, adeptos iniciados, seguidores secundários do culto a esta divindade. E mais, estes mesmos Olósányìn e seus iniciados aqui eram perseguidos e ironizados. Criticados abertamente por outras etnias as quais o chamavam de “vira-folha” ou de “filhos da patioba”, entre outros adjetivos comparativos a bissexualidade. Para os curandeiros do culto a Òsányìn, a patioba não é uma cobra, e sim uma folha de grande mistério que tanto mata como cura; a patíioba contém um alto teor de acidez e veneno. Nos rituais de feitura ou outras obrigações para esta divindade se não tiver a patíioba, awede, o alibu, a baba-de-boi entre outras tantas ervas consagradas a este orixá, mesmo que de menor valor em sua cama ou no chão para suas oferendas, com toda certeza, ali não estará o orixá Òsányìn. Pode ali até ter algo que possa ser identificado como um instinto possessivo, porém jamais este orixá. Por ser um orixá assexuado ele toma para si a sexualidade de seu filho, ou seja, se for em homem ele é masculino e em mulher é feminino. Assim sendo, os babalórisás, as yalórişás e os Olósányìn se assim não pensarem e agirem com certeza não estarão fazendo culto a Òsányìn, mas sim a uma farsa.
Observação: há um verbete que era cantado em quarto de segredo, nos anos cinqüenta do século XX para Òsányìn, cântico de juramento, que depois se tornou um cântico um tanto vulgar, cantado erradamente para Ode, no Rio de Janeiro, São Paulo, e quem sabe até na Bahia.

Òde, subs. = rua, lado de fora, relento.
Pami, v.t. = não ter sentimento, ter o coração fechado.
Sã’bura, adv. e v.i. = instantaneamente jurou, fez a jura.
Awoyo, subs. = a ninfa, que qualifica tantoYemaja, como Òsányìn..
Awede, subs. = planta, erva pertencente à Òsányìn, para consagração de orixás.

Ficarei aqui só na tradução didática para não descaracterizá-la, uma vez como já citei que hoje em dia ela é cantada para Ode ou Oşhossi; não que ache errado, mas fica complicado, pois na verdade o verbete original fala de òde, que significa rua, relento, lado de fora e não da divindade Ode.
Estendendo o assunto a respeito das folhas para consagrar Òsányìn, os jêjes usavam ou ainda usam uma erva chamada de “euriosayin”, que nunca tive o privilégio de conhecer. Confesso-me totalmente ignorante ao fato de que venha esta erva substituir todas as outras, salvo as ervas chamadas de enxerto, desfazendo assim todo o mal entendido não só da minha parte, como de vários outros zeladores de minha época sobre esse assunto. E que essa mesma erva, “euriosayin” venha produzir em Òsányìn omókonrin (filho homem). Mesmo assim aqueles que dizem fazer ou cultuar Òsányìn, Ossanha ou Òsãni, têm que não só conhecer como saber fazer o bom uso da mesma.
Dentro das raízes gêge, Òsányìn é também conhecida como Adínà Axédà, Aşeda, Akàsù, Ipákùrò e Asílóba, etc. Sendo assim, como Oshossi e Omolulu são auto afirmados como orixá masculino aqui no Brasil, se é que houve esta transformação, Òsányìn se macho, se afirma como fêmea neste caso, dependendo da genealogia progenitores dos iniciados para este orixá, que poderá ser consagrado e cultuados na condição de dual, hermafrodito, mas nunca como masculino.
Para levantarmos uma discussão sobre o orixá Òsányìn, uma vez que os babalòsányìns asseguram que “ele” é o deus das folhas, e lhe dão alguns vícios e costumes e nada mais, a despeito de todas as outras divindades que possuem a sua prole. Intitulam deus das folhas em detrimento do seu verdadeiro ser.
Para mim o verdadeiro espírito criador da floresta, da vida das plantas, daninhas ou não, das sementes que podem ficar incubadas de forma natural na terra anos a fio antes de germinarem e tornarem-se belas árvores frondosas; transformando todo o ar e proporcionando vida na terra. Há cem milhões de anos atrás, data esta estimada pela Ciência para o surgimento das primeiras plantas terrestres, surge o verdadeiro ser Òsányìn. Assim como todos os orixás endeusados que tiveram os seus antepassados e proles, a divindade Òsányìn não foge a esta regra, mesmo porque a mesma não surgiu do nada e nem a sua existência é ou foi inútil.
Òsányìan, orixá hermafrodito, como as sementes, deus das folhas? Deusa das ervas, da vida e da morte, protetora de todos os rebentos, e que segundo Minale ou Minanmunangue nos dizia: “Òssányìn divide o seu templo com Odanyin, orixá masculino e com Lilosányìn (Lirosányìn), orixá assexuado, uma espécie de omoòsányìn, orixá sem órgão sexual ou sem sexo definido". Mas como dizem que Òsányìn é o deus das folhas; e não que ele é a vida das folhas, não analisem esta divindade pelas folhas, mas sim pela sua origem (origem das folhas). A outra grande confusão está na nomenclatura afro-brasileira e na interpretação da mesma. Confundem babalosányìn, o homem, capitão-do-mato com a divindade Òsányìn, cuja dinastia: Òsányìn senhora absoluta; Odanyìn o sexo oposto e Lirosányìn o produto desta união. Òsányìn seria temida pelos caçadores que a chamavam de caipora ou caapora cuja entidade quando aborrecida fazia eles se perderem em seu seio, e só quando passasse a sua ira é que os deixava encontrarem o caminho de casa.
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