Desvendando os Mistérios dos Deuses

domingo, 1 de janeiro de 2012

PREVISÃO 2012. REGÊNCIA DE YEMONJA E OSHALA.



Ano bissexto que pertence a Eshu, Oshala (Orumila) e a Yemonja. Só que nesta regência Eshu não traz o complexo de Édipo, pois ele vem através de Ori o senhor de todas as cabeças e de todas as crianças.

2012 será um ano de impasses, primeiro porque Eshu entrega a regência a sua progenitora Yemonja, para que através dela os Deuses Marinhos terminem o que começaram em 2011; a transformação do Universo e da Mentalidade Humana. Para isso Eshu vem trazendo Ori, o Senhor Absoluto dos dois pólos: A Fertilização e a Infertilidade, pois é justamente Ori que determina quem nasce e quem depois de nascer vai morrer.

Mesmo entregando o comando a Yemonja, Eshu impõe a presença de dois odus: OKAARAN e ONIKAANSÃ, os quais estando juntos serão capazes de construir e destruir o inimaginável.

OKAARAN é um odu ligado a Nanan, podemos até mesmo dizer que ele é o Princípio Ativo e Positivo, porém ele é um dos odus mais perigosos estando junto a ONIKAANSÃ, pois ambos se transformam em Princípio Ativo Negativo de Oya e Eshu, e ambos vão comandar mais uma vez os desastres naturais que deverá acontecer com mais intensidade que os de 2011. Assim temos então Ori que é uma criança inconseqüente brincando com o fogo que será ativado por Eshu e espalhado por Oya, provocando assim desastres de toda monta. Logo, vamos ter novamente o Fogo, o Vento e as Águas forças poderosas cobrando o que ficou faltando pagar de 2011 pelo mundo afora, inclusive o Brasil que não ficará ileso a ira de ambos. É preciso observar que Eshu é Três Segundos de Excesso de Loucura, que todo ser racional e irracional possui a cada 24 horas do dia, assim quando falamos de Eshu estamos nos referindo a Orugan (Orungã) o Édipo da cultura africana filho de Yemonja e Oshala deuses de cultura sudanesa. Obs. Orugan, muito embora alguns estudiosos o liguem a Oshumare, ele é o epíteto de primeiro filho de Yemonja e Oshala. Oruugan = Eshu.

Este é um ano positivo para os filhos de Eshu, Ògún, Shàngó, Nanan, Oya e Òshún e não muito bom para os filhos de Oshala e Yemonja, pois na sua regência eles vão cobrar todas suas frustrações nas costas de seus filhos ainda mais porque Yemonja traz consigo este ano nada menos que BETÈOGUNDÁ, odu este de origem marinha, o qual comanda a início da vida nas águas e suas consequências sobre a terra, além de comandar também as disputas afetivas, as batalhas e as guerras. Como este odu é ligado a Ògún, só ele será capaz de mudar o curso de tudo, logo devemos agradar muito este orixá que será este ano mais do que nunca o Rei da Luz.

Já os filhos de Obaluaye, Oshossi, Ewa, Oshumare e Òsányín precisarão cobrir a cabeça, pois estarão na mira de EJIONILE, odu este que comanda as ações privadas, o eco entre quatro paredes ou em campo aberto. Para transformar os seus dias negativos em positivo os filhos destes orixás deverão dar oferendas BETÈOGUNDÁ.

Os filhos de Ògún, Shàngó, Nanan, Oya e Òshún serão privilegiados, pois OKAARAN estando ligado a Nanan traz com ele OKUMEJI e OKANRU ambos ligados a Eshu e Egun, e junto a ambos vem DOVARIN para promover a paz e a segurança dos filhos destes orixás.

Este é um ano de muita fartura, mas também de muitos conflitos e guerras.

OKAARAN, simboliza o companheiro para tudo, porém com pouca sorte, tornando assim seus protegidos em vítima do mundo que os rodeia. É preciso ter muito cuidado.

ONIKAANSÃ, traz o sofrimento, mas também oferece luz, glória, renovação e muita inteligência, vem ligado a Eshu e Oshala.

EJIONILE, vem trazendo a morte em conseqüência do fogo, do ar e do mar, acidentes. Doenças graves, sempre em família, roubo, traições e mentiras, ele está ligado a Obaluaye, Òsányín e Oshala.

Odú significa Destino, Predestinação. Odù tentando explicar didaticamente, são inteligências astrais que participaram da criação do universo. Cada pessoa traz um Odù de origem e cada oríşa rege ou é regido por dois ou mais Odùs que pode ser positivo, neutro ou negativo. Quando passamos por períodos onde tudo parece dar errado em nossa vida, fracassos, perturbações, necessidades, traições, destruições, perdas etc.. Com certeza estamos sendo influenciados e regidos por um odú negativo de um determinado oríşa.

As ervas que são imprescindíveis para minimizar os efeitos negativos do decorrer do ano:

Yemonja e Oshala: colônia, sendo raiz, folhas e flor. Rosas brancas e algodão.

Obaluaye, Oshossi, Ewa, Oshumare e Òsányín: aroeira, folhas de cajá, alecrim do campo ou de tabuleiro, rosas brancas, espanta-cavalo ou bete branca, sangue lavô.

Ògún: kitoko e aoeira.

Nanan: gervão, aroeira.

Oya: girassol, rosa branca, aroeira.

Oshun: oriri, rosa branca e aroeira.

Shàng.ó: tanchagem e aroeira

Eshu: sete sangrias, aroeira e obi ralado (tudo Junto).

Estes banhos deverão ser macerados e tomados da cabeça aos pés.

Assim cabem as pessoas que se sentirem afetadas por estes propósitos recorrerem a eles para reverterem o quadro negativo.

Feliz 2012.

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

PREVISÃO 2011


REGÊNCIA DE: ÒSHUN IJIMUM- OSHOSSI– OSHUMARE

É sempre bom informar que o calendário africano o Ano Novo começa em 1° de março, segundo a literatura especializada em história da África. O mesmo ocorrendo com as comemorações afro-místicas, começando sempre com Ògún a abertura dos festivais do Ano Novo. Como este calendário místico foi impossibilitado de ser implantado aqui no Brasil, os curandeiros do final do século XIX optaram por fazer modificações dos seus cultos passando então, a promoverem suas datas festivas de acordo com o nosso calendário oficial; colocando assim a regência do ano nas mãos de duas pretensas famílias distintas de oríshas: a família de Ògún e a de Shàngó.

Òshun Ijimum é considerada a mais velha ninfa da água doce e governa as profundezas dos rios, lagos, lagoas, foz, etc. A quem afirme que ela é uma mutação de Òshun Karê, e que foi adotada pela cultura Gege com o nome de Aziri-Tobôssi. Ela comanda o Tempo sobre a matéria e por isso está sempre jovem, traz em uma das mãos uma adaga e na outra uma serpente. Ijimum trazendo a modernidade e a juventude trará também a continuidade da evolução da engenharia genética, e da ciência como um todo. A tecnologia estará em alta. Todavia, o mais importante para ela é saúde e a beleza natural.

Òshún Ijimum traz Gunda-Meji senhor sonhador e dono das Ideias Profundas, da Realidade Inteligente, é preciso ressaltar que ele é um conquistador das políticas sociais, portanto esta área continuará avançando. Teremos menos fome no mundo. Mas é preciso dizer também, que ele traz consigo Obará princípio ativo de Eshu o senhor da Inteligência, da Fertilidade, do Progresso e Decadência e da Evolução e Involução. Obará terá a função de buscar aqueles que receberam e não dividiram, e por isso terão que perder tudo e um pouco mais. Observação: não se agrada Obará sem agradar seus quinze irmãos, sob a pena de perder tudo que ele deu. Junto a Obará vem Ossá e Ejilá, os quais irão sustentar as mesmas previsões de 2010, já que ambos são de origem marinha. Junto a Òshun, Ossá e Ejilá vem com a função de modificar a mentalidade dos jovens, prevenir a gestação precoce e minimizar os índices de doenças. As Ciências Humanas continuarão a evoluir cada vez mais. Continuarão os conflitos políticos em países da Ásia e do Oriente Médio, e é bem possível que em conseqüência disso em um deles aconteça um trágico desfecho. Ejilá e Ossá também promoverão a queda de dois grandes lideres mundial, ou por revolta popular ou por confronto.

Ijimun traz Oshossi como mediador, pois ele comandará Oyekú-Meji, que está ligado à vida e à morte dos embriões; ele representa o líquido que envolve o feto no ventre da mãe.

Oshossi também traz Hownse, que traz fartura, progresso, e sucesso em conseqüência de muito trabalho. Mas como Hownse vem com Laansã- Laaxe e Obará é preciso chamar a atenção também para escassez motivado pelo clima. Haverá muito conflito agrário.

Este é um ano que para evoluir não se poderá contar com a sorte e sim com uma inteligência criativa para obtenção de poder. Oshossi traz as oportunidades, mas para isso é preciso saber o que se quer e como se quer, tudo dependerá de como se faz o uso da inteligência e como se luta para chegar aonde almeja. O progresso chega mas, é preciso saber mantê-lo. Um bom planejamento será a base para qualquer tipo de evolução.

Oshumare Senhora do Arco-Íris. Deusa da Transformação e da Evolução é dado a ela a responsabilidade de alimentar harmonizar o mundo. Traz consigo Ossatíniko promovendo a transformação, buscando a razão e alimentando as emoções. Ossatíniko vem com Asheturá que representa a corrida do ouro, da fortuna, porém sem a preocupação com os meios, isso traz a vantagem de conseguir, de se vangloriar, mas por pouco tempo, pois logo tudo que conseguiu logo se perde. Quem acompanha Ashetura é Okaran e este odú é altamente negativo, perigoso, principio ativo de Oya e Eshu que virá para comandar os desastres naturais que acontecerão com mais intensidade, assim como o fogo, o vento e as água irão cobrar caro pela falta de responsabilidade no mundo. Já o Brasil por estar em uma das pontas do quadrante será poupado em grande parte.

Como Okaran é um odu ligado a Nanan e vem fechar o ano junto a Oshumare ele será negativo para s filhos de Omulu, Obaluaye, Shàngó e para os próprios filhos de Oshumare, os quais estando com sérios problemas deverão alimentar Okaran e Ossatiniko. O amor para estes é inexistente, pois neste ano eles farão tudo como jogo de interesse na luta pelo poder, até a traição será válida na cabeça deles.

Já os filhos de Ògún, Yemonja, Oya, Oba, Eshu serão beneficiados em quase tudo, salvo se estiverem em dívidas com seus oríshas. É aconselhável que os filhos destes oríshas duas ou três vezes neste ano, passem dinheiro pelo corpo e ofereçam este para alguém na rua. Obs. Dinheiro é cruz, transforme algum do seu em beneficio de alguém.

Os filhos de Òshun estarão bem cotados nos meios sociais e estarão bem protegidos e vigiados a cada segundo por Ossá e Ejilá que neste caso representam o Tudo ou Nada. É preciso decidir entre a fantasia e a realidade, se auto encontrar. O amor paira no ar, porém encontrá-lo será outra coisa.

Os filhos de Oshossi terão o privilégio de terem sempre uma saída para tudo, estarão protegidos contra a morte, mas não contra as doenças. Já o mesmo não acontecerá com os filhos de Ode, pois Obará irá lhes cobrar tudo que este ganhou e não dividiu.

Amor e indiferença predominarão em todos os aspectos da vida dos filhos de qualquer orísha, pois nestes momentos para s Odus que respondem por estes sentimentos o que mais importa é a sobrevivência, salvo os filhos de Nanan e Oshala que estarão acomodados com relação a afetividade.

Para agradar Ijimum nada melhor que frutos de água doce, feitos à base de óleo e azeite e simbolizá-la com uma, duas ou três bonecas lindas como ela, ou então com uma adaga e uma serpente decorativa. Estas oferendas deverão ser entregues na cabeceira do rio, de um lago ou lagoa, sobre uma linda toalha. Boa sorte.

terça-feira, 18 de maio de 2010

A RAÍZ DOS REIS YORUBANOS: AJAKA, ŞÀNGÓ E AGANJU

Şàngó, Ajaka são bisnetos da maior divindade Yorubana, Oduduwa o autor da existência ou a fonte geradora da vida. Oduduwa era filho de Olodù maré, ou seja, o pai ou Deus do Odu, isto é: o Todo-Poderoso, já que a etimologia da palavra odù significa tudo que é extraordinariamente grande. Oduduwa foi enviado por Olodumare do céu para criar a terra. Olokun, a deusa do oceano era esposa de Oduduwa, Oranmiyan e Isedale seus filhos e Ògun seu neto.
Oduduwa morreu ou desapareceu como preferem dizer os da nação Yoruba em paz e foi divinizado, sendo adorado até estes dias pelo Ifẹs. A terra de Ile Ifẹ, que fica no estado de Ọyọ na Nigéria é consagrada a ele. Ele era o avô e bisavô de reis renomados e príncipes que regeram e fizeram história no país de Yoruba, e teria vivido por volta do ano 2.180 a.C.
Já o pai de Şàngó e Ajaka se chamava Orañyan que vinha a ser neto de Oduduwa e sucedeu seu avô no trono. Orañyan era um grande guerreiro de uma coragem indomável. Ele foi responsável pela expansão tanto do reino como da cultura Yoruba. Fundou Ọyọ onde viveu por alguns anos dizem que foi viver em uma cidade também fundada por ele chamada Òkó, deixando Ọyọ a cargo de um dos príncipes. Ele residiu por muitos anos em Òkó e de acordo com alguns teria morrido lá, já outros afirmam que ele teria morrido em Ilẹ Ifẹ onde existe até hoje um obelisco chamado Opa Orañyan (o bastão de Orañyan) que teria sido erguido sobre a sua sepultura. A dúvida de ter morrido em Òkó ou Ile Ifẹ se deve ao fato dos Yorubas terem o costume de sempre que um morre longe de casa de cortar os cabelos e aparar as unhas do falecido para serem enterrados solenemente em seu lugar de origem, logo, isso poderia ter acontecido.
Havia também uma outra versão contada, foi dito que depois de um período longo de reinado uma necessidade urgente lhe fez visitar de novo a cidade de Ile Ife de onde ele havia partido por tão longo um tempo; talvez organizar alguns negócios familiares, ou tomar posse de alguns dos tesouros de seu pai que quando partiu deixou a cargo de Adimu, um dos criados fiéis de seu pai. Ele deixou seu filho Ajaka como Regente e partiu. Tendo ficado mais tempo do que o tempo fixado para o retorno dele (comunicação entre os dois lugares então era perigoso e difícil) as pessoas acreditavam que ele estava morto ou que de qualquer modo ele não iria mais retornar a Òkò; o ỌYỌ MESI que era as leis aprovadas da cidade, conseqüentemente confirmou Ajaka no trono, o investindo com carta branca, e toda a insígnia de realeza. Mas Orañyan retornou; e quando estava a uma distância curta da cidade, a atenção dele se voltou para som do Kakaki um trompete soprado só para o soberano. Ao investigar, ele compreendeu o que tinha acontecido. Logo então, ele recuou os passos calmamente e voltou para Ile Ifẹ onde dizem que passou o resto de seus dias em uma pacífica aposentadoria.
Orañyan era o pai de todo os Ọyọs ou dos próprios Yorubas e era o conquistador universal da terra. Ele deixou para trás dois filhos renomados, Ajaka e Şàngó, ambos o sucederam na direção, e ficaram famosos na história dos Yorubas, e foram divinizados depois de mortos.

AJAKA, ŞÀNGÓ E AGANJU: TRÊS REIS, TRÊS ORÍŞAS.

Os Yorubás exaltam como oríşas, reis ou alguma pessoa que por algum motivo se destacaram na terra, como um herói, por exemplo, tornando-se assim objeto de veneração. Os Yorubás acreditam em vida após morte, consequentemente fazem adorações aos mortos. Afirmam que após certo período, pais falecidos retornam para família sobrevivendo como crianças, ou seja, acreditam na reencarnação. Um pai ou um fundador de uma família também pode se transformar em um oríşa para seus filhos e descendentes se transformando em uma divindade para ser cultuada pelos mesmos. Portanto o número de oríşas existente por toda terra dos Yorubás é bastante grande, dizem serem mais ou menos uns quatrocentos; sendo que alguns se destacam nacionalmente e em outros países.
Ser Oríşa a bem da verdade significa ter sido escolhido entre os antepassados para ser venerado. Logo, torna-se quase impossível que algum Yorubá não cultue um Oríşa, e que todos por algum motivo sejam associados a alguma força da Natureza.
Acreditam também em julgamento futuro como é indicado através de um provérbio: “Ohungbogbo ti a şe l’aye, li a o de idena Orun ka” (O que quer que façamos na terra seremos cobrados nos portais do céu).

PRIMEIRO REINADO DE OBA AJAKA

Entre todos os reis de Yoruba só Ajuan, pseudônimo Oba Ajaka subiu ao trono por duas vezes.
Muito pouco é conhecido de seu primeiro reinado, a não ser que possuía uma personalidade bem diferente de seu pai. Era uma pessoa pacífica e seu maior interesse era a agricultura que incentivava e amava.
Por ser muito moderado e pacífico para o espírito aguerrido da época sofreu invasões de reis provincianos. Nesta mesma época encontrava-se em grande ascensão Olowu seu primo, que logo após a morte de seu tio Orañyan passou a ter mais poder do que o próprio rei de Ọyọ, obrigando o pacífico Ajaka a pagar-lhe tributo, alguns afirmam que teria sido seu irmão Şàngó que o teria forçado a pagar-lhe tributo, se foi Olowu ou Şàngó não se sabe ao certo, mas o pagamento de tributos é que teria sido o motivo para ele ter sido destronado, partindo para Igbodo onde permaneceu exilado por sete anos durante o período em que o seu irmão Şàngó reinou em seu lugar.

OBA ŞÀNGÓ

Oba Şàngó pseudônimo de Olufiran foi o quarto Rei ou Alâfin de Ọyọ. Filho de Orañyan e irmão de Ajaka. Ele tinha temperamento muito violento, inflamado, além disso hábil em truques de mágica e muito, muito sedutor . Ele tinha o hábito de emitir fogo e soltar fumaça pela sua boca e com isso ele aumentou grandemente o medo entre os seus subordinados.
Quando Şàngó sucedeu ao trono, sendo um homem muito jovem, o Olowu pretendeu tirar proveito da sua mocidade; e da mesma forma que fez com Ajaka também exigiu que ele lhe pagasse tributo, mas Şàngó se recusou reconhecer a sua primazia apesar da ameaça do Olowu de privá-lo da companhia de suas esposas e de seus filhos; por conseguinte sua capital foi cercada e uma briga acirrada resultou. Şàngó além de exibir a sua habituada coragem, também demonstrou o seu domínio de magia; grande volumes de fumaça que emitia pela boca e narinas, acabou por apavorar o Olowu e o seu exército, que foram completamente derrotados e rapidamente fugiram..
Depois desta vitória se seguiram outras, e a cada nova êxito ele ficava mais firmemente estabelecido no trono; assim ele foi exaltado, respeitado e tirânico.
A ambição dele agora era remover a sede do governo de Òkó para Ọyọ então chamada
Ọyọkóró, ele sabia que iria encontrar uma forte oposição do príncipe daquela cidade e por isso ele se propôs a arquitetar planos pelos quais poderia efetuar seu propósito com o mínimo de luta possível.
Şàngó era agora possuído de um desejo de executar um ato de devoção filial. Ele queria adorar a sepultura de sua mãe morta, mas ele fez de tudo para se lembrar o nome dela e não conseguiu porque ela morreu quando ele era apenas um bebê. Şàngó sabia que ela era a filha de Elempe um rei Nupe que formou uma aliança com Orañyan lhe dando a filha dele para desposar, de tal matrimônio Şàngó tinha conhecimento.
Shàngó encomendou a um escravo de Tàpá e um Hausa então para irem ao país dos Nupe, para estarem com seu avô materno Elempe com o propósito de lhes dá um cavalo e uma vaca para o sacrifício no túmulo de sua mãe.
Estes mensageiros do Rei ficaram encarregados de escutarem cuidadosamente o nome proferido na prece que evidentemente seria o nome de sua mãe.
Aos mensageiros foram dadas boas-vindas cordialmente, e foram bastante entretidos por Elempe, o avô de seu Rei, de forma que o Hausa esqueceu de seu dever do qual ele foi acusado. Na hora do sacrifício, o sacerdote havia dito "Torôsi, Iya gbodo, nos escuta, seu filho Şàngó veio adorá-la." O Tàpá notou o nome Torôsi, mas o Hausa, estando longe não se preocupou em prestar atenção ao nome proferido; então, ao retornar o escravo tàpá era altamente recompensado, o Hausa era castigado severamente sem descanso. O castigo dado a ele era de 122 cortes de navalha, cortaram o corpo dele por toda parte como uma advertência duradoura e eterna.
As cicatrizes formadas estranhamente por estas feridas levaram fantasia às esposas do Rei que achavam que elas acrescentaram atração e beleza ao homem, e então elas aconselharam tais marcas não deveriam ser executado em um escravo, mas sim em membros da família real como distintivo de realeza.
Şàngó seguiu o conselho, e se colocou primeiro nas mãos do “Olowolas" (os marcadores) nomeou Babajẹgbe Ọsan e Babajẹgbe Oru; mas ele só resistiu à dois cortes em cada braço, e lhes proibiram de proceder qualquer adicional. Isto é o que é contado em Èyò. Os cortes ficaram apenas na família real, como um distintivo da realeza, e conseqüentemente os membros da família real são denominados Akèyò. São duas marcas grandes de fitas nos braços do ombro ao pulso.
Quando o Rei resolveu tomar Ọyọkòrò, o ocorreu empregar isto como um dispositivo pelo qual ele poderia efetuar o propósito dele facilmente sem perda de vidas. Ele então enviou o escravo Hausa a Ọyọkòró para verem como bonito este escravo ficara com estas marcas, e que então por causa disso as mesmas agora eram marca de realeza; ele aconselhou então que Ọlọyọ-koro e seus ministros se submetessem e serem assim marcados, como grau e beleza, declarando que ele mesmo tinha feito assim. Eles então concordaram, e foram enviados para lá Babajẹgbe Ọsan e Babajẹgbe Oru, e admiravelmente executaram suas tarefas.
Mas no terceiro dia, quando Ọlọyọ-koro e seus chefes estavam ainda muito doloridos, Shàngó apareceu com toda a sua força contra eles; nenhuma resistência foi oferecida, e a cidade caiu nas mãos dele facilmente: vergonhosamente e brutalmente matou o príncipe e seus chefes, as cobaias de seu estratagema.
Assim a sede do governo foi removida definitivamente de Òkò (ou como querem alguns, de Ile Ifẹ) para antiga Ọyọ o "Eyeo ou Katunga”.
Şàngó reinou durante sete anos, e todo período foi marcado pela sua inquietude e espírito guerreiro. Ele lutou muitas batalhas e exibiu suas magias.
Segundo as histórias contadas pelos akipatitas (verdadeiras enciclopédias vivas), a bravura de Şàngó não estava na luta física, mas sim na estratégia de luta. Para ele era como se tudo não passasse de um jogo matemático entre: custos x lutas x beneficio, aonde no produto desse jogo chega o guerreiro pacificador, que entra em batalha contra os fatores já esgotados. Vitorioso, pacifica-os para que eles continuem reinando em seus territórios, porém sobre o seu total domínio.
Não bastasse tudo isso Şàngó tem uma biografia muito extensa que vai da paixão pela automagia, alquimia até as mulheres, divas deusas como: Òşun, Oba e Ọya que ao seu lado estão sempre dispostas a entrarem em batalha a qualquer momento para defendê-lo. Entre elas se destaca Ọya nome da fiel e amada esposa que teria sido a única que o acompanhou para cidade de seu avô paterno. Ela era discreta e feroz, uma amazona, e se tornou indispensável ao seu marido em todos os sentidos. Dizem que nada ele fazia sem ela.
Alguns cânticos cantados nos candomblés aqui no Brasil fazem referência a esta união:
Lówólówo gùdò pá/ E Osé boya mi/ Ọya okàn de osé be/ Ose bóya mi/ (Ultimamente evita brigas calmamente. O deus do Trovão talvez esteja diferente. Oya seduziu o coração do deus do Trovão, e tomou a frente, talvez de um novo deus do Trovão).
Wúyewúye Ọya bẽkó/ Oba ni ta èse wúyewúye/ Ọya bẽkó oba ni ta èse ké niwà àyaba/Oba ni ta òse, oba karí Èkó. (Secretament Ọya disse ao Rei não ser errado impor um tributo, sigilosamente. Oya disse não ser ruim persistir favorecendo o bem disposto Rei. O Rei então concordou com o tributo. O Rei chegou em Èkó (cidade de Lagos)).
Oya madá be lê se bè lê imã (Oya tem como hábito estar sempre a frente de tudo, é poderosa pede sempre mais do que precisa).
O Odu Okànràn Meji,colhido por Wande Abimbola faz referência à união desses dois oríshas, por ser muito longo apresentarei apenas alguns versos.
A díia fún Şàngó,/Igbà ti nlọ rèé gbóya níyàwó/Wón ní ó kaáki mólè/ O járe,/Ẹbọ ni ó şe;/ Eşu àìşebo,/Ẹgbà àiterù/Şàngó kò,/Şàngó ò rú;/Ò p’awo lékèé,/Ó p’eşù lóle;/Ó wórun yàn yàn/Bi ẹni ti ò níí kú mó láyé;/Ó wáá kọtí ògbóin sébọ./Aya rórò jọkọ lọ o./Aya rorò jọkọ lọ./Ẹyin ò mò p’óya ló rorò ju Şàngó./ Aya rorò jọkọ lọ./Ọya ló rorò ju Şàngó/ Aya rorò jọkọ lọ./Ta ni o mọ pé Ọya ló rorò ju şhàngó./ Aya rorò jọkọ lọ./
(Foi feito um jogo adivinhatório para Şàngó/quando ele ia tomar Oya por esposa/ disseram-lhe quefosse logo/para não se arrepender depois./Disseram-lhe que fizesse ebó/pois deixar de fazer ebó coloca Eşu contra a pessoa/Şàngó recusou/Ele não fez ebó/Chamou o awo de mentiroso/e chamou Eşu de ladrão./Virou a cabeça com altivez/como se fosse um imortal./Fez ouvidos moucos à recomendação de fazer ebó/A esposa é mais feroz que o marido!/A esposa é mais feroz que o marido!/Vocês não sabem que Ọya é mais brava que Şàngó./A esposa é mais brava que o marido./Ọya é mais brava que Şàngó./ A esposa é mais brava que o marido./Quem não sabe que Ọya é mais brava que Şàngó?/ A esposa é mais brava que o marido.)
Era dito que Şàngó tinha o conhecimento de alguma preparação pela qual ele poderia atrair raio. O palácio a Ọyọ foi construído ao pé de uma colina chamado Òkè Ajaka (a colina de Ajaka). Um dia o Rei subiu esta colina acompanhada pelos seus cortesãos e alguns de seus escravos, entre os quais estavam dois favoritos, Biri e Omìran; alguns de seus primos também o acompanharam. Ele estava disposto a tentar a preparação ele tinha nas mãos; pensando que estava úmido e inútil, ele fez primeira experiência em sua própria casa. Mas entrou em vigor, uma tempestade imediatamente e o os relâmpagos atingiram o seu palácio e algumas outras construções antes deles desceram a colina, e tudo ficou em chamas. Algumas das esposas de Şàngó, dizem que ele possuía dezesseis, e todos seus filhos morreram nesta catástrofe.
Şàngó foi autor de seus próprios infortúnios! Ficou abalado e consternado com que tinha acontecido, com o coração partido. Ele então decidiu abdicar do trono, e retirar-se para a corte de seu avô materno, Elempe rei dos Nupes.
Todos os ọyọs estavam agitados, não só por simpatizarem com o Rei, mas também para dissuadi-lo de sua resolução, porém Şàngó não admitia qualquer tipo de oposição, e se encontrava tão enlouquecido, que usou sua espada contra alguns de seus leais súditos, cento e sessenta pessoas, que se aventuraram a lamentar sua decisão, e que prometiam a ele substituir suas esposas mortas por outras, e com elas gerar novos filhos, e assim com o tempo reparar suas perdas presentes.
De acordo com outros relatos, ele não se abdicou por livre vontade dele, mas foi solicitado a fazê-lo por um forte partido de oposição do estado. Ambas os relatos podem ser verdadeiros, pode ter havido as duas versões para este fato. Yorubas têm aversão por Rei dado a fazer feitiços mortais; porque para quem já tem poder absoluto investido a ele através de lei, este poder estranho e vingativo pode ser usado contra qualquer um, ninguém se sente seguro com um rei assim.
O fato é que ele partiu para sua viagem fatal com alguns seguidores. Biri seu escravo favorito foi o primeiro a lamentar a medida tomada, e a incitar seu senhor a ceder às súplicas dos cidadãos de Ọyọ que com toda a lealdade prometeram substituir as suas perdas, até onde o homem poderia fazê-lo, e reconstruir o palácio; mas achando o Rei inexorável, ele o abandonou e voltou à cidade com todos seus seguidores; Omìran seguiu igual exemplo e o Rei então, foi deixado sozinho. Ele agora se arrependia de sua precipitação, especialmente quando ele se achou abandonado pelo seu favorito, Biri.
Ele não poderia prosseguir sozinho, e por vergonha não poderia voltar para casa, e ele então resolveu acabar com a própria vida, e subiu em uma árvore de manteiga de karité (chamada de akumolapa na Nigéria ou Igi Èye pelos yorubas), e lá se enforcou.
Seus amigos quando ouviram falar desta tragédia foram para lá imediatamente executaram para ele o último ato de bondade, enterrando seus restos mortais sob a mesma árvore.
Ao ouvir falar da morte do Rei, seus amigos pessoais seguiram o seu exemplo, e morreram com ele. Biri se suicidou em koso (onde o rei morreu), Omiran fez o mesmo. Seu primo Omo Sàndá se suicidou em Papo, Babayanmi em Sẹlẹ, Obei em Jakuta e Ọya a sua esposa favorita em Irá. “Ọya wọlè ni ile Irá; Şàngó wọlè ni Koso” um provérbio que diz: Ọya desapareceu na cidade de Irá; Şàngó na cidade de Koso. Os heróis e heroínas nunca são citados como mortos, e sim como desaparecidos.
Assim terminou a vida deste personagem notável que outrora dominou todo o Yorubas e Popos. Mais tarde ele foi divinizado, e ainda adorado por toda raça Yorubá como o deus de trovão e do relâmpago. A este grande guerreiro são dedicadas todas as conquistas Yorubanas. Viveu aproximadamente em 1450 a.C. Foi deificado após seu “desaparecimento”, porém devido a sua bravura e sentimentalismo passou a ser: ORÍŞA TI AKIN (DIVINDADE DA JUSTIÇA).
Em cada cidade Yoruba e Popo até hoje, sempre que houver um relâmpago seguido por um estrondo de trovão, é comum ouvir da população mensagens de "ka wo o" ka biye si "(Bem-vindo à sua majestade, viva o rei). Sem dúvida foi o mais poderoso e o mais forte de todos os Alafins.
Ajaka seu irmão foi chamado do exílio, e ele segurou as rédeas de governo mais uma vez.

SEGUNDO REINADO DE OBA AJAKA

Um novo homem! Assim pareceu Oba Ajaka em seu segundo reinado, em nada lembrava aquele homem tranquilo, amante da agricultura, que por falta de atitude não conseguiu conservar seu trono. Este novo Ajaka era valente, amante das armas, parecendo ser até mais guerreiro que seu irmão Şàngó.
Agora eram atribuídas a ele várias façanhas contadas pelo seu povo. Entre elas a expedição que ele liderou ao país de Tapa, onde ele empregou grandes pássaros muito bem treinados munidos com setas mortíferas, que depois de cruzarem o rio Niger despencaram estas armas fatais sobre os aliados maternos de seu irmão Şàngó com grande êxito.
Ele passou seus últimos anos empreendendo guerras civis com seus súditos. Era dito que ele tinha estado comprometido em guerras civis com 1060 de seus chefes e príncipes entre os quais o vassalo principal ou reis provincianos: Onikoyi, Olugbon, e Arẹsa.
Ele teve a seu serviço alguns "curandeiros" que fizeram encantos para ele, a saber, Atagbọin, Ọmọ-onikòkò, Abitibiti Onişegun, Paku, Tẹtẹoniru, Yãnà, Ọkọ-adán Ẹgbẹji, Alari baba işegun, e Elenre.
Conta-se também que depois de o ajudarem a vencer várias guerras, alguns desses "curandeiros" foram até Oba Ajaka, e humildemente, suplicaram para que ele permitisse a volta deles para casa, mas o rei recusou-se a conceder-lhes licença, temendo que seus serviços fossem requeridos por alguns outros reis, e dessa forma, outros usufruíssem dos encantos que fizeram para ele. Como eles estavam determinados a irem para casa, eles mostraram ao Rei através de provas demonstrativas, que eles fizeram o pedido simplesmente por cortesia, mas que o rei não os poderia deter. Paku abaixou-se diante dele, e desapareceu. Tete oniru, Abitibiti Onisegun, e Alari baba Isegun executou o mesmo feito e desapareceu. Egbeji jogou para cima uma bola de linha que pairou no espaço, e ele subiu por essa linha e desapareceu. Somente Elenre permaneceu de pé diante dele. Então o rei teria dito a ele: "Elenre, você deve seguir os exemplos de seus colegas e desaparecer, ou eu desafogarei minha vingança em você pela desobediência deles”. "Mate-me se puder" respondeu Elenre. O Rei então ordenou que ele fosse decapitado; mas na tentativa espada se quebrou em duas. Ele ordenou então que ele fosse lanceado, mas a lança se dobrou e o braço do lanceiro murchou! Ele ordenou rolar uma pedra grande em cima dele para esmagá-lo até a morte, mas nele tal pedra caiu leve como uma bola de algodão.
Todas as tentativas de acabar com Elenre se mostraram inúteis, o rei e seus executores não sabiam mais o que poderiam fazer, até que ocorreu a um deles de procurar por Ijaehin a esposa de Elenre, que ao ser prevalecida lhe contou que nenhum ferro ou aço poderia afetá-lo, e completou: “Puxe uma única lâmina de grama do sapé da casa, e com isso você pode decapitá-lo”. E assim foi feito, e em um único gesto a cabeça foi degolada, mais um imprevisto aconteceu, ao invés da cabeça cair no chão, caiu na mão do Oba Ajaka, e ele com o susto a agarrou involuntariamente. E rei fez de tudo para se livrar da cabeça, mas não conseguiu, e o pior o rei estava se definhando, pois não conseguia comer e nem beber, qualquer alimento que trouxessem para ele a cabeça devorava, da mesma qualquer bebida a cabeça sugava. E o rei estava morrendo de fome e sede
Todos os "curandeiros" de toda tribo do reino foram chamados, para desencantar este fenômeno alarmante. Só que assim que qualquer um entrasse, a cabeça o chamava através de nome, contava a composição dos seus encantos, e então perguntava a ele: "Você pensa que isso pode me afetar?" Assim muitos ficaram perplexos, até que finalmente chegou Asawo; este homem prostrou imediatamente a uma distância e pediu a cabeça para privar-lhe de qualquer coisa, dizendo: _ "Quem sou eu para opor-lhe? Em o que eu sou melhor que meus antecessores a quem você já anulou? Eu só entrei por obediência aos comandos do Rei como não me atrevo a recusar, vim." A cabeça respondeu "Eu o respeitarei porque você é sábio e me respeita; Eu me rendo a suas solicitações." Então, caindo de repente das mãos do Rei, a cabeça de Elenre se tornou um rio corrente conhecido em Ọyọ atualmente como Odo Elenre (o rio de Elenre).
Sua esposa Ijaehin que descobriu o segredo da força dele também foi convertida em um córrego, mas a cabeça de Elenre disse "Tu não roubará nenhum fluxo”, então Ijaehin se tornou uma piscina empoçada em Ọyọ.
Deste incidente o rei Ajaka fez disso uma regra: que de daqui em diante nenhum rei deve estar pessoalmente presente a uma execução.
Ele decretou a morte de todos os 1060 reis vassalos levados à guerra; seus crânios foram reunidos como relíquias e são adoradas sob o nome de Orişa'la a partir de então. Esta é a origem provável desta adoração.
Nada é conhecido do fim de Ajaka, provavelmente ele morreu ou desapareceu em paz.
Ajuan pseudônimo: Oba Ajaka o terceiro e quinto Alafin de Oyo, na Nigéria. Bisneto de Oduduwa, filho de Orañyan e irmão de Şàngó. Viveu em 1450 a.C. No Brasil apesar dele ser irmão de Şàngó é cultuado como uma qualidade de Şàngó que reverencia a paciência e a persistência em alcançar seu objetivo, provavelmente uma alusão ao seu primeiro reinado quando foi destituído de seu reino, e da sua volta triunfante em seu segundo reinado.

OBA AGANJU

Oba Aganju o sexto Alâfin ou Rei de Ọyọ. Como Şàngó não deixou descendentes diretos, já que seus filhos foram todos mortos graças a experiência fatídica que ele próprio promoveu. Aganju o filho de Ajaka subiu ao trono sem qualquer tipo de disputa.
O reinado dele se mostrou longo e muito próspero. Ele tinha uma habilidade toda especial para domesticar animais selvagens e répteis venenosos, alguns dos quais podiam ser vistos rastejando sobre seu corpo. Ele também possuía em sua casa um leopardo dócil.
Possuía um bom gosto apurado. Embelezou seu palácio acrescentando praças na parte da frente e de trás, com filas de postes de bronze. E ele que deu inicio ao costume de decorar o palácio com tapeçarias.
Perto do fim de seu reinado travou guerra com um homônimo seu, Aganju o Onisambo, por recusar-lhe a mão de sua filha Iyayun. Nesta guerra, quatro chefes foram capturados e suas cidades destruídas, a saber: Onisambo e seus aliados Onitede, Onimeri e Alagbòna. E assim garantiu a noiva à força.
Mas seu reinado foi ofuscado por um grande problema familiar que se transformou em tragédia. Lubẹgò seu único filho foi descoberto tendo relações ilícitas com a sua amada Iyayun, por conta disso muitos príncipes e pessoas comuns perderam suas vidas. Aganju totalmente enfurecido sentenciou sobre seu único filho penalidade extrema da lei, que foi rigorosamente realizada. Com a morte de seu filho o rei foi tomado de grande tristeza, ele morreu não muito tempo depois, mesmo antes do nascimento de um sucessor para o trono.
Mas Iyayun carregava em seu ventre o filho de Lubegò, a única esperança de um sucessor direto. Em conseqüência disso frequentemente eram oferecidos sacrifícios no túmulo de Aganju com a intenção que ele deixasse Iyayun conceber este filho que seria a única forma de seu nome jamais ser esquecido, e de sua dinastia não terminar. E Aganju então, permitiu que Iyayun desse à luz a este filho, toda a população ficou feliz. Esta criança foi chamada de Kori, e até ele ter idade suficiente para subir ao trono, Iyayun foi declarada regente. Ela usou a coroa, vestiu os roupões reais além de ser investida com o Ejigba e o Opa ileke e outras insígnias reais, e governou o reino como um homem até que seu filho completasse a idade para ser o novo rei.
No Brasil é cultuado como sendo uma qualidade de Şàngó, mas na verdade é seu sobrinho.
E assim mais um Rei se transforma em Oríşa; inspirando as multiformes de Deuses da Justiça.
Alguns casos aqui relatados foi contado por meu pai Dorode Oba Dode, além de ter feito pesquisas nos livros: The History of Yorubas de Samuel Johnson, Dicionário Antológico da Cultura Afro-Brasileira de Eduardo Fonseca Júnior.

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

REGÊNCIA DE: ÒGÚN - ỌYA – OSHALA. EM 2010



No calendário africano o Ano Novo começa em 1° de março, segundo a literatura especializada em história da África. O mesmo ocorrendo com as comemorações afro-místicas, começando sempre com Ògún a abertura dos festivais do Ano Novo. Como este calendário místico foi impossibilitado de ser implantado aqui no Brasil, os curandeiros do final do século XIX optaram por fazer modificações dos seus cultos passando então, a promoverem suas datas festivas de acordo com o nosso calendário oficial; colocando assim a regência do ano nas mãos de duas famílias distintas de oríshas: a família de Ògún e a de Shàngó.


No ano de 2009 termina a regência da família de Shàngó e 2010 começa a reger a família de Ògún.

Ògún, divindade masculina de origem Yorubana, onde possui o seu nicho, templo sagrado em Abeokuta. É um dos mais importantes orixás cultuado aqui no Brasil.

Segundo a mitologia africana, Ògún é o filho prodigioso de Olókun e Odùdúwa, o criador da existência.

Aclamado como Deus da Agricultura e do Ferro. Ele é o responsável por todo o desenvolvimento tecnológico nos setores da indústria do ferro e do aço. Considerado um estrategista de primeira linha, parceiro feroz, guerreiro, poderoso. Ao mesmo tempo considerado um excelente companheiro na luta pela vida, garantindo aos seus filhos e protegidos uma vida de muito trabalho e conquista. Guerreiro impulsivo daqueles que jamais foge de uma luta.

Coube a ele a responsabilidade de ensinar aos homens o uso dos metais.

Na Regência de Ògún, os excluídos começam a ser protegidos, como os bêbados, os pobres, os maltrapilhos, os fracos, os abandonados, as crianças, assim como seus filhos e seguidores sinceros.

Nesta Regência Ògún traz dois odùs positivos: Òbéte-Ogundá e Etáogundá.

Òbéte-Ogundá governa a origem da vida através das águas e consequentemente a origem da vida na terra, com especialidade no que diz respeito às guerras e suas implicações. Muito embora estes odùs tenham ligação direta com Yemonjá, eles interferem diretamente nas ações e decisões de Ògún, assim como seus presságios para o Ano de 2010. Ainda teremos muitos transtornos provocados pelas águas, e declarações de conflitos armados, mesmo porque Òbéte-Ogundá ainda traz consigo os odùs Ejilá e Ossá, sendo ambos de origem marítima. Mas, esta trilogia também traz a evolução da Ciência Humana com soluções para o desconhecido e as doenças graves.

Como Deus da Agricultura, ele traz Etáogundá que apresenta a evolução da cultura geral, protegendo a agricultura e proporcionando alimento em abundancia. Os agricultores terão sua proteção e o seu incentivo para que assim a agricultura caminhe a passos largos. A indústria do aço, do manufaturado e dos transportes estará em nível bem mais elevado proporcionando assim mais empregos. Porém, Etáogundá também costuma mudar o curso das coisas, jogando com as pessoas no campo das paixões. Poderá haver grandes retrocessos, pois, muitos que até o dia 31 de dezembro de 2009 se sentiram seguro de si, em 2010 “balançará” com especialidade os filhos de Yemonjá, Òshún, Oya, Shangó e Oshossi. Até porque Ògún traz para governar com ele a Senhora da Tarde, Yansan, isso, porém não aplacará a sua ira, o seu ciúme e o seu desgosto por ter sido abandonado por ela. E neste caso os filhos destes dois oríshas deverão não só os propiciar com oferendas como também rezar para que Etáogundá mude o curso das relações afetivas. Existe ainda a presença do odù Gundameji que virá para comandar as conquistas políticas, as quais serão muitas, ao mesmo tempo irá também provocar uma revolução para fins de reforma no cenário político. Estas mudanças trarão como conseqüência uma ligeira mudança na mentalidade política naqueles que comandam, pois será cobrado a eles satisfação.


Oya trazendo o odù Beofún como positivo no lugar de Obarasheke.

A especialidade de Beofún é afastar os Eguns e curar as doenças principalmente em mulheres grávidas e crianças. Ele contribuirá também na área da pesquisa para cura de doenças. Porém, junto com Beofún vem Dowarin (ou Owarin), Okaran e Obarase que trazem o fogo, a arte, a atração e a comunicação. É importante saber que esses três odùs são inseparáveis assim para propiciar um terá que propiciar os outros dois, sobre pena de ser perseguido pelos três.


Oshala ao invés de Etala-Metala traz Ajé Mirile Ajé oferecendo equilíbrio, vitórias sobre dificuldades, e renascimento. Mas, existem também decepção e doenças por causa de Ofú no caminho de Oshala que traz a Vida e a Morte.

Este é um ano muito perigoso para se mexer com Odù, pois eles estarão sempre em dupla, trio ou mesmo em quarteto e para que se tenha êxito é preciso que se dêem oferendas a todos em questão.






Para o início do ano é aconselhável:

Banho de rosas brancas, de aroeira (se for da branca será melhor), de quitoco, de girassol ou de colônia.

Qualquer um desses banhos tomados da cabeça aos pés e em série de três, proporcionará beneficio para qualquer pessoa.

Oferendas Para os Oríshas Regentes;

Ògún: abará, vatapá, ou lelê de milho vermelho.

Oshala: lelê de milho branco.

Oya: vatapá, abará, acarajé.

O lelê com certeza é a oferenda mais fácil de fazer.

Material:

½ kg de canjica vermelha, ½ l de leite de coco, 200 g de açúcar, cravo, canela em pau, erva-doce, ¼ de litro de leite de vaca, 150 g de milharina ou fubá de milho.

Como fazer:

Cozinhar a canjica bem cozida, e escorrer. Fazer um chá com um pouco de cravo (10) dois pedaços de canela em pau, um pouco de erva doce. Dissolver a milharina em um copo de água acrescente a seguir o leite de coco e o de vaca. Misturar com a canjica vermelha. Quando começar a ferver adicionar a açúcar e ½ copo do chá. Mexer para que fique bem encorpado (mais ou menos uns 20 minutos). Quando estiver no ponto (nem muito mole e nem duro) colocar nos pratos para que esfrie e fique em ponto de corte. Estando frio corte em pedaços e coloque em oberó, ofereça para Ògún acendendo uma vela e fazendo seus pedidos, o restante poderá ser oferecido com quem quiser compartilhar deste momento com você. Esta receita dará quatro ou cinco pratos, o lelê é ótimo para acompanhar com café ou chá.

Para Oshala o processo é o mesmo, só que com a canjica branca e no lugar da milharina o creme de arroz (não vitaminado). Deverá ser oferecido a Oshala em uma vasilha branca.

Para Oya pode oferecer o mesmo lelê que propicia Oshala ou o arroz de Haussa com molho branco e camarão.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

OLUBAJÉ

Olubajé é um ritual sagrado comemorado geralmente no mês de agosto, em homenagem a Obaluayê que alguns fazem sincretismo com São Roque e São Lazaro.
Este ritual antigamente tinha seu início sempre em meados de julho, que era quando as comunidades pertencentes ao candomblé traziam o ibá (assentamento) de Obaluayê ou Omolu de seu quarto de santo para o centro de seu barracão, com suas vestes e paramentos, para ser ali reverenciado por todos os adeptos e visitantes da dita comunidade, e ao mesmo tempo para que fossem depositados em seu redor os donativos para conclusão de seus festejos no mês de agosto. Estes donativos não se resumiam em dinheiro, também eram ofertados vinhos, azeites, mel, feijões, arroz, farinha, fubá, camarão seco, inhames, batatas, animais de duas e quatro patas, velas, enfim tudo que fosse necessário para o preparo das oferendas dedicadas aos orixás.
Quando faltavam entre sete ou quatorze dias para festividade, dependendo da casa, para conclusão deste preceito era preciso “pedir esmola”, em nome do orixá, pois se acredita que além de ser o Deus das Doenças, também é o Deus dos Desvalidos. Para isso, eram preparados tabuleiros: um com um assentamento muito bem arrumado de Obaluayê, que seria carregado por uma yawo com mais de três de anos de feita, ou seja, uma adosi, outro com pipoca, e um outro com guloseimas como cocadas, fubá de amendoim, de castanha, bolinhos, etc. Tudo pronto saía do barracão uma comitiva sob a supervisão de ou de ekedes, ou alabe, ou ogans, etc. Iam às ruas não só pra esmolar como para trocar pipocas e guloseimas por dinheiro e outros materiais ofertado ao orixá. O dinheiro era depositado no tabuleiro onde estava o assentamento do orixá, que só poderia ser contado no regresso ao barracão. Esta comitiva nos dias que ficavam fora do seu barracão de origem batia de porta em porta pedindo donativo, abordavam as pessoas nas ruas com muito respeito e agradeciam sempre a atenção a eles dispensada, com a palavra: “Olorunsan”, deus lhe pague.
Um momento importante desta peregrinação era quando batiam na porta de um barracão. Neste momento é que esta comitiva tinha que mostrar a educação e os princípios recebidos de seu barracão de origem. A começar por não levantar a cabeça por nada, salvo as ekedes e ogans responsáveis pela peregrinação. Ao entrarem no barracão visitado já encontravam uma esteira aonde iriam depositar seus tabuleiros, e várias outras a sua volta aonde iriam se sentar e bancos para os responsáveis pela comitiva.
Depois de algum tempo de descanso os visitantes começavam a rezar os seus àdúrás (suas rezas), ao terminar tomavam bênçãos aos mais velhos e trocavam de bênçãos entre si e com os outros que ali se encontrassem. As filhas do barracão anfitrião corriam para preparar uma comida para os visitantes; se esta visita fosse ao cair da tarde, elas se encarregariam de acomodá-los até o dia seguinte. E durante a noite, algumas com ordem do anfitrião se encarregavam de tomar conhecimento sobre o que estivesse acabado nos tabuleiros para repô-los, para que no dia seguinte pudessem continuar sua peregrinação com tranquilidade. Ao amanhecer então, após terem tomado um café reforçado era chegada à hora de partir, então todos se voltavam para o dono do barracão visitado batiam paó e a benção. Um responsável pelo cortejo dizia: “EREBE OLORÚNSAN, BABA MIM, ADUPÉ”, Deus lhe pague por tudo meu pai, obrigado. E escutavam um alegre: OLÓRUN ÍBEWÓ SAN, e Deus lhe paguem pela visita, e assim a comitiva seguia em frente para completar sua peregrinação. Quando retornavam ao seu barracão de origem eram recebidos com festa pelos seus superiores, irmãos e outros que faziam parte de sua comunidade.
Nesta mesma noite ou na noite seguinte tinha início à segunda parte do ritual com o sacrifício dos animais oferecidos aos orixás. Para então começar os festejos próprios do Olubajé.
Para falar de OLUBAJÉ é preciso me reportar ao início do século XX até os meados dos anos noventa, quando este ritual e suas oferendas eram sinônimos de fé, amor e paz. Este era o momento pelo qual às comunidades que professavam o candomblé reuniam seus adeptos e simpatizantes para festejar o deus das doenças de pele, Obaluayê. Momento este que seria aproveitado para agradecer a ele a proteção recebida contra todos os tipos de doenças e também para pedir paz e saúde para sua vida como para os seus. A comunidade e seus simpatizantes se reuniam na maior união e comunhão de fé para preparar os alimentos para um abundante banquete que seria oferecido a todos os presentes nos festejos em homenagem a Obaluayê. Este era um momento de reflexão em busca de saúde, paz, liberdade, compreensão e união. Ocasião de extremo respeito, pois ali estavam também em busca de milagres para alguns males que estivesse a afligir, não só a si como para os seus. Sabiam também que este era o momento único no decorrer do ano que todos tinham com exclusividade não só agradar e reverenciar o Deus da peste e das doenças de modo geral, como também cantarem seus lamentos, dançarem, além de serem agraciados com um rico repasto dedicado a ele.
A PALAVRA OLUBAJÉ
Tive o privilégio de nascer e me criar dentro de terreiros de candomblés não convencionais escutando os dialetos tribais que eram ágrafos, tonais e expressados em muito por elisão. O yoruba não é um idioma e sim um dialeto com muitas variações, dependendo da região que o mesmo é falado, sendo assim, o muito que já foi escrito deve-se aos colonizadores do continente africano e sempre levando em conta à gramática dos colonizadores. Fico pasmo quando algumas pessoas intituladas de zeladores de orixá dizem sobre o significado da palavra olubajé. Para eles olubajé quer dizer podridão. Agora peço que pensem nisso e respondam a vocês mesmos: acreditam que os escravos e seus descendentes iriam durante cem anos fazerem peregrinações, esmolarem, enfim todo tipo de sacrifício para reverenciar os seus deuses com um banquete de alimento podre ou de componentes para despachos e limpeza de corpo? Pensem nisso!
Ademola Adesoji, em seu livro “Ifá-A Testemunha do Destino e o Antigo Oráculo da Terra de Yorubá”, escreve: bàjé = estragar.
Dr. Eduardo Fonseca Junior, grande mestre africanista e historiador em seu “Dicionário-Yorubá (Nagô) Português”, escreve: bàjé = corromper, estragar (agora como corruptela afro-brasileira); bájé = menstruação e bajé = comer com alguém. Assim como outros escritores fidedignos, nenhum coloca olubajé como elemento de despacho como alguns acreditam e fazem questão de passar para os incautos.
Então, vejamos:
Bajé = convite para comer.
Olu = senhor, mestre, dono.
OLUBAJÉ = CONVITE PARA COMER COM O MESTRE.
Termo original: OLU BA NI JÉ = O MESTRE NOS CONVIDA PARA COMER.
Com a elisão o I é derrubado, ficando apenas OLUBANJÉ = COMENDO COM O MESTRE.
Portanto, é um absurdo o que alguns “babaloríxás, yálorixás” que por total ignorância praticam e o que é pior estimulam seus seguidores a transformarem as oferendas dos orixás, alimentos sagrados em elementos de despachos como infelizmente assistimos nos dias de hoje, vemos alguns “zeladores”, ekedes, ogans, yawos, etc. no ritual de Obaluayê, de Omolu receberem este mesmo alimento sagrado envolvido na folha de mamona e em vez de comerem um pouco que seja passarem no corpo como se estivessem se descarregando, ou ainda olharem para seus “zeladores” com ar de deboche e depositarem as mesmas no cesto das sobras. Meu Deus! Essas pessoas não têm respeito nem a si próprio nem a casa que está visitando, não tem respeito ao culto que dizem praticar e muito menos aos orixás! Ou são totalmente ignorantes, ou então se fazem este ritual em seu barracão as comidas são tão malfeitas, tão mal temperadas, com total falta de higiene, que se torna impossível de ser degustada, servindo apenas de elemento de limpeza de corpo, como vemos por aí.

UM MANÁ DOS DEUSES

OBALUAYÊ: deus da peste, da varíola, da catapora, das doenças de pele, etc.
Seu banquete era e é composto de um tipo de comida específicos para cada orixá, e de dois ou três tipos especifico para ele, além disso, os animais anteriormente sacrificados em sua homenagem. Tudo deve ser preparado com muito amor, carinho e respeito; tudo muito bem cozido e condimentado, a base de: camarão defumado, cebola, gengibre, noz moscada, kioiô, gergelim, gemas de ovo, sal, azeite doce, azeite de dendê, etc. O necessário para que o seu banquete se torne não só o mais saboroso possível, como também medicinal pela ação de ervas, raízes e frutos contidos no seu preparo.
Enquanto as pessoas filhas de yabás se desdobram no preparo das comidas, um outro grupo colhe folhas de mamona as lava e as enxuga para só então colocá-las em um balaio para que nelas sejam servidas as comidas.

DISTRIBUIÇÃO DOS ALIMENTOS

Este era e é um momento mágico, que todos esperam, o qual tem início logo pós as louvações com cânticos e danças de todos os outros orixás. Neste instante começa o ritual do OLUBAJÉ. Quando então, ao som dos atabaques, vão saindo do quarto de santo onde as oferendas estão arriadas e imantadas pela energia dos orixás e pelos orins e àduras (cânticos e rezas). Em primeiro lugar vem a yalorixá ou babalorixá com seu adjá puxando o cortejo; em segundo uma yabá carregando uma ou duas esteiras, em terceiro um filho (a) de santo carregando o balaio contendo as folhas de mamona, e em seguidas, filhos e filhas, ekedes, ogans, etc. trazendo sobre suas cabeças as panelas, oberós ou bacias contendo os alimentos, os quais devem ser depositados sobre as esteiras estendidas no centro do barracão, para serem distribuídas a todos iniciados ou não. Após comerem o que desejarem junta as pontas da folha que pode estar totalmente vazia ou não e rodam em torno da cabeça três vezes, para só então depositarem dentro de outro balaio que já está a disposição para este fim, pois tudo faz parte das oferendas e logo no amanhecer do dia seguinte irá ser entregue às águas ou as matas.
Outra fato importante, é que o cântico, tanto da saída do quarto com os alimentos sobre a cabeça, como enquanto se alimentam até o final da distribuição dos mesmos quando se dá por encerrado este ritual deve ser este:

E ajeun bó
Olubajé ajeun bó

E, contração de èyi = isso, isto, este, esta.
Ajeun = comida, comer.
Bó = alimentar, comer.
Olubanijé = Olubajé = convite para comer com o mestre.
Ajeun = comida, comer.
Bó = alimentar, comer.
Tradução: ISSO É COMIDA PARA NOS ALIMENTAR, O MESTRE NOS CONVIDOU PARA COMER.

COMIDAS OFERTADAS AOS DEUSES

Cozinhar para os orixás, com certeza é um dos assuntos mais importante no que diz respeito à cultura. Para isso é preciso ter grande conhecimento sobre a culinária afro-brasileira para exercer esta função. É preciso conhecer os gostos de cada um dos orixás em particular, dos escravos dos mesmos além é claro dos gostos dos òdús que os acompanham.
As comidas de origem africanas, em princípio eram usadas aqui no Brasil para regalo dos senhores de escravos os quais tinham não só o prazer de deglutir, mas de se exibir como o senhor r cozinha da comarca.nham naque possuía a melhor cozinheira, a melhor cozinha da comarca. Estas mesmas comidas, quando os senhores permitiam, também eram servidas nas festanças dos negros escravos, que por agradecimento aos deuses por terem o direito de fazer as suas festas, ofereciam os primeiros pratos aos deuses. Assim como é do conhecimento de muitos, estas comidas sempre foram bem condimentadas e preparadas com bastante requinte, todas as bases de camarão, amendoim, castanhas, gengibre, gemas de ovos, azeite de dendê, azeite doce, ervas, etc. Portanto isso mostra o grande contraste com as comidas que alguns barracões oferecem para os orixás, algumas além de serem mal cozidas, não contêm condimento algum. Ao fazer a comida para oferecer aos deuses é preciso ter conhecimento, respeito e amor para o que está se propondo a fazer. É bom se observar que nem todos estão preparados nem com conhecimento, nem psicologicamente e muito menos espiritualmente para estar em uma cozinha para fazer comida tanto para os orixás, como para os exus ou os òdús. Mesmo porque não é só preciso saber cozinhar é necessário saber separar e definir uma comida que serve para o bem de uma que pode provocar o mal. Outra coisa também é a forma de servir as comidas em vasilhas apropriadas para cada orísa, exu ou òdú. Outra coisa importante também é conhecer as comidas que entra nos gostos de todos. Alguns exemplos:
Milho branco de canjica:
Para Oshala milho branco (ado) quando cozido na água chamado ágbadô.
Milho branco cozido e escorrido misturado com creme de arroz, açúcar, cravo, noz moscada, leite de coco, água de flor de laranjeira e o chá do cravo, canela e erva doce, formando uma mistura bem consistente que de para cortar é chamado de lelê.
Este mesmo milho com os temperos acima e bastante caldo chama-se mungunzá e serve não só para Oshala como também para outros orixás.
Milho branco escorrido e misturado com cebola, camarão seco, noz moscada, feito no dendê é o axoxô de Oshumare.
Algumas comidas são feitas com pedidos de saúde, dependendo do problema de cada um, como por exemplo:
Rolete de cana sarango para Òshún.
Dengé de carimã para Yemonjá. (mingau ralo, que pode ser feito também de ágbadô socado e peneirado e levado com os mesmos temperos do lelê).
21 acarajés para Yansan.
Efó de mandacaru para Shàngó e Ewa.
Fruto do dendê cozido para Oshumare e outros.
Etc.
Assim como para os casos de amor temos alguns exemplos, como:
Omolokun dado para Òshún com sete gemas cruas como enfeite e regado com bastante mel e entregue nas águas.
Apeté feito com inhame cará para Yemonjá, enfeitado com três gemas cruas e regado com azeite doce e entregue nas águas.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

LIBERDADE SEMPRE!



O interesse de Portugal pelo Brasil começou com a extração do pau-brasil, árvore na qual se podia extrair um precioso corante destinado a manufaturas de tecidos na Europa. Alguns povos indígenas no início, até concordaram em cortar a madeira e levá-las até o litoral em trocas de prendas que lhes agradavam, mas os índios viviam livres e tinham sobretudo o espírito livre, e quando se viram obrigados a trabalhar em função deste comércio se rebelaram, as guerras e conflitos se multiplicaram. Logo a saída foi substituí-los por negros africanos. E os portugueses, encontravam facilidade em usar o escravo africano, já que desde 1443 faziam uso desta mão de obra, como afirmam os livros didáticos. Esta substituição encontrava base na própria tradição africana que já tinha o costume de escravizar seus prisioneiros de guerra, chefes de tribo tinham o costume de capturar e escravizar pessoas de tribos inimigas, não que tivessem vindos pra aqui só prisioneiros de guerra, muitos foram capturados ilegalmente por assim dizer, às vezes trocados por bebidas, armas, tecidos, etc., outros por terem cometido delito considerados graves como o adultério e assassinato. Com a introdução da cana-de-açúcar aqui no Brasil no século XVI aumenta o tráfico de escravos que aqui chegavam em condições subumanas, quando conseguiam chegar, muitos não resistiam aos maus tratos nos navios negreiros ou tumbeiros e morriam, e eram então, simplesmente descartados no mar.
É interessante comentar o fato de se dizer, em alguns livros de História do Brasil que para Bahia foram enviados os escravos de Guiné, e para o Rio de Janeiro e Recife os negros vindos da atual Angola, Congo e Moçambique. A bem da verdade acima ou abaixo da linha do Equador todos os negros eram considerados “Da Guiné”, portanto eram de uma região bem ampla. Porém, é mais provável serem do Congo os primeiros escravos negros a chegarem aqui no Brasil. Para só depois de cinquenta anos chegarem aqui os negros vindos da Costa do Ouro, Dahomey e Benin.
Os escravos que aqui chegavam eram oriundos de várias partes da África. Pertenciam a etnias diversas como os Bantos, Edes, Nigritos, Lubas, Mussurumins, Benguelas, Cabindas, Ashantis, Ijeshás, Óyòs, Zulus, Haussas, Moxi-Congos, Mandingas, Fantis, Endembos, Minas, Fons, Ijebus, Ibos, Krobos, que perfaziam a um total estimado em mais ou menos 280 etnias. Logo, podemos concluir que traziam diversas formas de organização social, política e cultural. Imaginem então o choque do escravo africano quando aqui chegava que além encontrar um mundo totalmente estranho e hostil, já havia perdido seus familiares. Foram separados pais de filhos, marido de mulher, vendidos para destinos diferentes, sua comunidade totalmente perdida, arruinada.
E quando chegavam à senzala, os escravos ainda tinham que conviver com pessoas de etnias diversas, com seus dialetos e costumes contrários ao seu. Era de se esperar então, que para se comunicarem entre si, que houvesse uma aglutinação de dialeto e cultura, e foi o que aconteceu.
Além de ter sua identidade de certa forma desvirtuada, o escravo ainda tinha que enfrentar as péssimas condições no trabalho, alimentação insuficiente, higiene precária, sem contar com os castigos físicos. As mulheres escravas em nada eram poupadas, algumas trabalhavam nas lavouras, outras no trabalho doméstico atendendo a vontade das esposas e filhos do senhor, e ainda eram obrigadas a satisfazer sexualmente seus donos brancos. Por causa disso, e para não terem seus filhos a mercê de seus donos, muitas provocavam aborto, tanto sendo filho do senhor branco como de seu irmão de cor.
A reação a esse tipo de vida dependia do escravo em questão, uns agiam com submissão aceitando pacificamente tudo que lhes era imputado. Outros se entregavam a uma depressão profunda (banzo) que na maioria das vezes os levavam a procurar a morte. Todavia outros se revoltavam ferindo ou matando seus algozes, queimando canaviais, sempre a procura da sonhada Liberdade. Os que conseguiam fugir procuravam resgatar a sua vida qual era na sua Mama África, com seus preceitos, costumes, tentando assim preservar o que restava de sua cultura africana nos quilombos.
Voltando a aglutinação de cultura, acontecida tanto nas senzalas como nos quilombos. Creio ser de conhecimento de todos, que os escravos eram proibidos de manter seus costumes, rituais e tradição. Para disfarçar seu culto a seu Deus Todo Poderoso (Olorún, Lembá, Orunduze) e seus deuses intermediários, se escondiam atrás dos santos católicos para poderem assim render homenagem a seus deuses de origem. Fazendo um sincretismo religioso entre os santos católicos e os deuses africanos. É evidente que isso não aconteceu isoladamente, os escravos de etnias e culturas diferentes se uniram em prol de poderem sobreviver através de sua tradição. E assim nasce o Candomblé com suas preces e cânticos a seus Orixás com pedidos de Saúde, Proteção e principalmente Liberdade. De cunho social, religioso e político. Denunciando seus sofrimentos, perseguições sofridas; os planos de ataques a seus inimigos, de fuga; o cotidiano que tinham que enfrentar. Um Candomblé Afro-Brasileiro, que só aconteceu porque houve entre os negros africanos uma união de pensamentos, que tinha como intenção maior preservar suas origens culturais, e que na falta de seus sacerdotes primitivos, não se importavam em se adaptar a sacerdotes de outras etnias, o mais importante era conseguir, fosse como fosse, conservar a sua religiosidade e através dela conseguir a tão almejada Liberdade. Portanto, o que podemos concluir é que na realidade fica difícil responder com precisão a pergunta que muitos adeptos do Candomblé gostam de fazer: Qual é a sua nação? Será que alguém é capaz de responder a isso com precisão? Ou na verdade o Keto possui dogmas do Angola, do Gêge e vice-versa? O Candomblé na realidade é uma reunião de várias etnias e culturas africanas, que aqui no BRASIL teve como fundamento principal a busca pela LIBERDADE, no seu sentido mais amplo possível, pois engloba a LIBERDADE FÍSICA, a LIBERDADE RELIGIOSA, a LIBERDADE CULTURAL.
Muitos cânticos que fazem parte do Candomblé traduzem com extrema maestria o negro escravo em sua busca incessante pela Liberdade, como por exemplo:

Ògún ni tó kó bó àlé
Ariwo lòré
Ògún ni tò kò bò alé
Ariwo lòré

Texto: Ògún é suficiente para nos mostrar o caminho para fugirmos a noite. Temos um amigo e clamamos (por ele). Ògún nos ensina a colocar tudo em ordem e o idolatramos e clamamos toda noite por nosso amigo.

È'níhà gògò òwurò
Àjà lewò
Orò dìde òsi ríhe ogun àkòró
M’àbò wúre ìróko
E níhà aşálè
M’àboò wúre o

Texto: Vós ireis para o lado de lá, para preparar os bastões para os frutos e colocá-los no depósito pela manhã. (Os deuses) são muito generosos. Nós precisamos ter saúde para crescer e assim, poderemos resgatar o que de nós tiraram; (tudo aquilo que pertencia aos nossos antepassados: a liberdade, a cultura, a tradição e outros legados). Lutaremos pela nossa liberdade e pelo direito de igualdade. Logo, logo estaremos retornando e então, rogaremos aos mais velhos pelas bênçãos dos deuses com muito aferro. Agora, posso garantir-lhes.

Awa dé ló d’oni’o
Awa dè ló d’òni’o jèlénké
Òdúnmòdún là jíjìnna tilè wé
Awa dè lò d’oni’o jèlénké

Texto: Nós partiremos daqui, e de hoje em diante, cultivaremos o nosso próprio sustento. Unidos faremos as mudanças necessárias. Há muito tempo atrás, sonhamos em ver o sol e a lua nascerem. Com liberdade e em um lugar muito distante ficaremos bem. Nós hoje somos bem unidos.

Yé yèyè yèyè òkè o!
Yé yèyè yèyè òkè o!
Àilãlà ké àlá kúré
A ibènã mõkùn ãbò
Àilãlà ké àlá kúré
Aibere mõkùn ãbò o!

Texto: Farei todas as vontades à minha graciosa mãe nas colinas! Agradarei à minha graciosa mãezinha de todas as formas nas colinas! Estou acostumado com aquela imensidão infinita, lá é o lugar de meus sonhos, onde me escondo e tenho proteção. Naquela imensidão infinita sou favorecido em todos meus sonhos, até os que não foram pedidos, sim lá sinto segurança para me esconder!

Do ano de 1900 a 1960, a cultura geral aqui praticada sofreu algumas modificações, e não distorções, para poder escapar das repressões. Isso me faz lembrar o que me contavam sobre uma das figuras asquerosas do sistema repressivo contrário ao candomblé e ao seu povo, o comandante ou “delegado” Pedrito, que se pode de certa forma até compará-lo a Jorge Velho com relação a Palmares.
Pedrito era muito temido pelos curandeiros. Filho de Xangô carregava consigo o sadismo e o extermínio em seus olhos; aterrorizava tanto os negros feiticeiros que ganhou uma cantiga com seu nome que alertava as comunidades de sua chegada, que era assim:

Parem com o atabaque
Pedrito vem aí
Ele vem gritando
Kao kabiesi!

A parem com o atabaque
Que vou dá a despedida
Eu não sou fifo pra engolir tanta torcida
(fifo era candeeiro de querosene, e a torcida era o algodão feito em corda no qual se acendia o fogo).
Estas cantigas entre tantas outras foram cantadas de 1910 a 1930, até que no final de 1930, Pedrito sucumbiu perante um toque de Xangô, onde ele e seus asseclas haviam ido para acabar com o festejo e castigar a todos indiscriminadamente. Segundo a narrativa, dos mais velhos.

Em pleno século XXI, voltamos àquela época ao sermos coagidos a abandonar nossa fé. A Intolerância Religiosa, infelizmente se mostra novamente presente como no tempo da escravidão. Talvez pior, pois hoje não é o senhor branco o único algoz, mas muitos descendentes de africanos que rejeitam sua cultura primitiva. E em nome de Jesus se tornam os novos Inquisidores, procurando obrigar com perseguições absurdas, os que cultivam a cultura a seus Orixás de origem, a abandonarem seus ritos. Torna-se primordial então, olharmos para trás e pegarmos como exemplo o que os nossos ancestrais passaram, e como o Candomblé serviu perfeitamente aos propósitos daquela época. As antigas associações de Candomblé usavam seus poderes para denunciar as condições sociais, culturais, políticas e estruturais de seus adeptos. O Candomblé foi uma arma de denúncia, defesa, e ataque a tirania da escravidão. Tentemos, hoje, trazer nossos barracões, associações, também com elevados propósitos de nossos ancestrais. Tratemos nosso Candomblé com respeito, dedicação, mantendo as tradições, mesmo que tenhamos que adaptá-lo a realidade e algumas necessidades dos dias atuais. A União se faz necessária, só assim conseguiremos vencer esta absurda INTOLERÂNCIA RELIGIOSA.
Mais uma vez buscando pela nossa LIBERDADE SEMPRE!
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