terça-feira, 21 de abril de 2009
EWÉ E EGBÒ (FOLHA E RAÍZ)
As casas que ainda por respeito aos seus antepassados cultivam esta cultura natural e de grande fundamento devem ter o conhecimento das folhas de cada orixá, tanto para usar na cama do ìyawó como para curar seus males. Toda erva pertence à Òsányin que as cede a outros orixás.
Cada orixá atrai um tipo de mal de senzala, logo é preciso que se saiba em que parte do corpo se encontra a doença que queira curar.
Os filhos de Òşun têm problemas de coração e estômago e às vezes de barriga; logo para curar estes males, sem risco de prejudicar outras partes do corpo. Assim deve-se usar oriri para o estômago e barriga, o elevante (colônia) para o coração e para controlar o resto do organismo a tanchagem.
O oriri serve para tirar toda a inflamação interna e ao tomar o chá desta erva para limpeza interna sobrecarrega os rins, pois os mesmos dão passagem para as “sujeiras” trazidas pelo oriri, então para que os rins não fiquem com deficiência usa-se a tanchagem para regular.
Os filhos de Yemonja sofrem de problemas na barriga e para curar este mal se usa o macassá, a salsa do brejo, o alibu. Entretanto, como estas ervas além de operar como elemento de cura para os problemas de barriga de modo geral, também age como calmante coisa esta desnecessária para muitas pessoas, pois em muitos casos estas ervas são capazes de esfriar as pessoas, então para que isso não aconteça se usa a nêgamina como elemento de controle junto aos nervos das pessoas, pois ela usada como remédio além de ser quente é laxativa.
Os filhos de Yansan têm problemas de pressão e são incapazes de descreverem o grau de calor que são acometidos, são nervosos e podem ser sifilíticos, então para exterminar estes problemas se usa o bete-roxo, a arnica, o alecrim do campo, o maracujá. A arnica para sífilis e o maracujá para controlar a pressão, o bete-roxo para os nervos e distúrbios orgânicos de modo geral.
Os filhos de Ògún sofrem vícios e costumes que os pode levar a ter problemas pulmonares. O uso da aroeira, do manacá, do quitoco é essencial. Como o manacá e o quitoco são laxantes e podem prejudicar o intestino se usa o sangue-lavô (cana do brejo) para regular o intestino e o fígado.
Os filhos de Şàngó costumam sofrer com problemas na garganta e nos testículos, além de fraqueza nas pernas. Para curar estes males se usa a erva de passarinho e a tanchagem para a garganta; o ojuá, o cajueiro branco e a folha do algodão para os testículos. Apesar de ser contrário ao oríşa se usa mulungu para a fraqueza das pernas. O mulungu é contrário a Şàngó porque nela residem alguns eguns, tornando-se, portanto avessa à expectativa deste orixá, mas accessível ao tratamento das fraquezas nas pernas.
Os filhos de Omolu e Bessem sofrem de doenças da pele, fígado e dos rins. Para que não sejam vítimas destas doenças é bom recorrer às folhas de cajá, cajueiro branco, capeba, imbu, imburana, erva-cidreira, carrapixo, catuaba, cana-mirim. Como o olho da imburana e a erva-cidreira são prejudiciais para a concepção deste orixá e para a potência dos que as usam, se faz uma cobertura com as folhas cinco pontas com aroeira branca e a resina da banana prata. Todas estas ervas preparadas em três infusões separadas, cada infusão obedecendo a um tratamento para um tipo de mal sendo, porém as três infusões em tratamento consecutivo.
Os filhos de Oshossi sofrem com problemas na cabeça, no estômago e leve deficiência nos ossos e no coração. Para estes males chá de maracujá mirim, maracujá assu, baco-paru, jaca-de-pobre, maçaranduba. Mas como o maracujá é calmante levando para os que usam sem regras e sem necessidade uma grande prostração, se usa como reconstituinte a guabiraba, a tapia e o quitoco.
Os filhos de Òsányin sofrem de “quentura” no sangue, problemas nas vistas. Quando não engordam demais, emagrecem demais. O tratamento consiste nas ervas mais corriqueiras como: capim-caboclo, capim-limão, orvalho do capim-gordura, a tanchagem, o cipó-cheiroso, o girassol, o chapéu-de-couro e a erva de santa Luzia.
Os filhos de Nanan geralmente sofrem de tudo ao mesmo tempo, pois são condicionados a todos os tipos de doenças, mas tudo de rápida passagem. Suas ervas de uso são: erva de santa Maria (mastruz), capim-limao, arruda, guiné, alecrim do campo, alecrim de tabuleiro, alecrim grosso, o mata-pasto e o caroço do mamão.
Os filhos de Oshala sofrem de reumatismo, problemas na cabeça, de visão e sangue. Recorrer ao olho de morici, da imbauba, da imburana. Uso da capeba, capueraba, casca-dante, velame e de dois tipos de algodão, oriri e alfavaca miúda.
QUEM É ÒSÁNYIN ?
Com tudo isso na África do século XIX, já se sabia pouco sobre a sua existência, o seu culto e a sua cultura, e aqui no Brasil, idem. Os poucos escravos que trouxeram e que aqui nos legaram um pouco de conhecimento não eram Babalòsányìn, e sim Olósányìn, adeptos iniciados, seguidores secundários do culto a esta divindade. E mais, estes mesmos Olósányìn e seus iniciados aqui eram perseguidos e ironizados. Criticados abertamente por outras etnias as quais o chamavam de “vira-folha” ou de “filhos da patioba”, entre outros adjetivos comparativos a bissexualidade. Para os curandeiros do culto a Òsányìn, a patioba não é uma cobra, e sim uma folha de grande mistério que tanto mata como cura; a patíioba contém um alto teor de acidez e veneno. Nos rituais de feitura ou outras obrigações para esta divindade se não tiver a patíioba, awede, o alibu, a baba-de-boi entre outras tantas ervas consagradas a este orixá, mesmo que de menor valor em sua cama ou no chão para suas oferendas, com toda certeza, ali não estará o orixá Òsányìn. Pode ali até ter algo que possa ser identificado como um instinto possessivo, porém jamais este orixá. Por ser um orixá assexuado ele toma para si a sexualidade de seu filho, ou seja, se for em homem ele é masculino e em mulher é feminino. Assim sendo, os babalórisás, as yalórişás e os Olósányìn se assim não pensarem e agirem com certeza não estarão fazendo culto a Òsányìn, mas sim a uma farsa.
Observação: há um verbete que era cantado em quarto de segredo, nos anos cinqüenta do século XX para Òsányìn, cântico de juramento, que depois se tornou um cântico um tanto vulgar, cantado erradamente para Ode, no Rio de Janeiro, São Paulo, e quem sabe até na Bahia.
Òde, subs. = rua, lado de fora, relento.
Pami, v.t. = não ter sentimento, ter o coração fechado.
Sã’bura, adv. e v.i. = instantaneamente jurou, fez a jura.
Awoyo, subs. = a ninfa, que qualifica tantoYemaja, como Òsányìn..
Awede, subs. = planta, erva pertencente à Òsányìn, para consagração de orixás.
Ficarei aqui só na tradução didática para não descaracterizá-la, uma vez como já citei que hoje em dia ela é cantada para Ode ou Oşhossi; não que ache errado, mas fica complicado, pois na verdade o verbete original fala de òde, que significa rua, relento, lado de fora e não da divindade Ode.
Estendendo o assunto a respeito das folhas para consagrar Òsányìn, os jêjes usavam ou ainda usam uma erva chamada de “euriosayin”, que nunca tive o privilégio de conhecer. Confesso-me totalmente ignorante ao fato de que venha esta erva substituir todas as outras, salvo as ervas chamadas de enxerto, desfazendo assim todo o mal entendido não só da minha parte, como de vários outros zeladores de minha época sobre esse assunto. E que essa mesma erva, “euriosayin” venha produzir em Òsányìn omókonrin (filho homem). Mesmo assim aqueles que dizem fazer ou cultuar Òsányìn, Ossanha ou Òsãni, têm que não só conhecer como saber fazer o bom uso da mesma.
Dentro das raízes gêge, Òsányìn é também conhecida como Adínà Axédà, Aşeda, Akàsù, Ipákùrò e Asílóba, etc. Sendo assim, como Oshossi e Omolulu são auto afirmados como orixá masculino aqui no Brasil, se é que houve esta transformação, Òsányìn se macho, se afirma como fêmea neste caso, dependendo da genealogia progenitores dos iniciados para este orixá, que poderá ser consagrado e cultuados na condição de dual, hermafrodito, mas nunca como masculino.
Para levantarmos uma discussão sobre o orixá Òsányìn, uma vez que os babalòsányìns asseguram que “ele” é o deus das folhas, e lhe dão alguns vícios e costumes e nada mais, a despeito de todas as outras divindades que possuem a sua prole. Intitulam deus das folhas em detrimento do seu verdadeiro ser.
Para mim o verdadeiro espírito criador da floresta, da vida das plantas, daninhas ou não, das sementes que podem ficar incubadas de forma natural na terra anos a fio antes de germinarem e tornarem-se belas árvores frondosas; transformando todo o ar e proporcionando vida na terra. Há cem milhões de anos atrás, data esta estimada pela Ciência para o surgimento das primeiras plantas terrestres, surge o verdadeiro ser Òsányìn. Assim como todos os orixás endeusados que tiveram os seus antepassados e proles, a divindade Òsányìn não foge a esta regra, mesmo porque a mesma não surgiu do nada e nem a sua existência é ou foi inútil.
Òsányìan, orixá hermafrodito, como as sementes, deus das folhas? Deusa das ervas, da vida e da morte, protetora de todos os rebentos, e que segundo Minale ou Minanmunangue nos dizia: “Òssányìn divide o seu templo com Odanyin, orixá masculino e com Lilosányìn (Lirosányìn), orixá assexuado, uma espécie de omoòsányìn, orixá sem órgão sexual ou sem sexo definido". Mas como dizem que Òsányìn é o deus das folhas; e não que ele é a vida das folhas, não analisem esta divindade pelas folhas, mas sim pela sua origem (origem das folhas). A outra grande confusão está na nomenclatura afro-brasileira e na interpretação da mesma. Confundem babalosányìn, o homem, capitão-do-mato com a divindade Òsányìn, cuja dinastia: Òsányìn senhora absoluta; Odanyìn o sexo oposto e Lirosányìn o produto desta união. Òsányìn seria temida pelos caçadores que a chamavam de caipora ou caapora cuja entidade quando aborrecida fazia eles se perderem em seu seio, e só quando passasse a sua ira é que os deixava encontrarem o caminho de casa.
segunda-feira, 23 de março de 2009
JOGO DE BÚZIOS
A complexidade do jogo de búzios está no conhecimento do campo de ação dos odùs, e para que possa assim combatê-lo, incentivá-lo ou neutralizá-lo.
Os odùs são consciências astrais que participaram da criação do Universo. Cada pessoa traz um odù de origem e cada oríşa é regido por dois ou mais odùs que podem ser positivo, neutro ou negativo. É importante destacar que independe se este odú pertença ou não ao oríşa de origem de uma pessoa, por exemplo, uma pessoa pode ser de Òşun e ter influência dos odùs de Yansan em seu destino. Na realidade um odù paga tributo a outro pela invasão do campo de ação desse mesmo odù.
Para nós, simples estudiosos desta cultura, é imperioso ter conhecimento dos odùs que eram conhecidos integralmente pelos famosos babalawôs,homens que na África nasceram e morreram levando consigo estes conhecimentos. Eles levavam de muitos anos infiltrados nestes estudos a ponto de se adaptarem do jogo de Opelê ao jogo de Ifá que contém 365 peças, através do qual eles professavam o destino de todos os seus protegidos. Podiam também, contar a vida de um desconhecido da hora de seu nascimento até a data presente sem errar um ponto se quer.
Hoje nesta época em que vivemos tornasse praticamente impossível almejarmos ser um Oluwô, mas sim ter um aprendizado necessário para a nossa vida contemporânea e futura.
Pelo que aprendi por verdadeiros mestres ao longo de minha vida num jogo búzios, obi, orobo a quantidade de odùs são assim distribuídas:
37 odùs: respondem no jogo de 37 peças, podendo chegar a 49 odùs.
27 odùs: respondem no jogo de 27 peças, podendo chegar a 33 odùs.
13 odùs: respondem no jogo de 16 peças, podendo chegar a 17 odùs.
09 odùs: respondem no jogo de 11 peças.
07 odùs: respondem no jogo de 7 peças.
09 odùs: respondem no jogo de obi (noz de cola)
§ Observação: O jogo de 11,9, 7 e 4 peças são os chamados jogos de sim ou não, e seu campo de ação é bem limitado.
O Campo de Ação de Alguns Odùs:
Onikansã a labareda boa ou má, e Odi o desastre regendo Èşu.
Ejiokô o nascimento, e Meji a caloria regendo Ibeji, Vunji e Êre.
Gunda Masá as cores, Ossá a doença do sangue, Orossun a dualidade e Ossatura o narcisismo regendo Logun e Logun Edé.
Assá o fio da navalha e Ôfurin os distúrbios e os desencontros familiares regendo Yemonja.
Aşetura a lentidão e Iká a morte presente regendo Bessem e Òşumare.
Obará Kê a paz e Eşeobara a doença espiritual.
Odi Dovarin a fantasia visual e Dodô Ofun perseguição regendo Oshossi.
Etala Metala equilíbrio gravitacional e Ajé Mirilê Ajé problemas monetários e de moral regendo Oşala.
Ofú a psicose e Ejionilê a moradia regendo Omolu.
Etaogunda a amnésia e Ainã o caminho de fogo regendo Ògún.
Aşetura Bessa a força bruta, Aşeturá as perdas e Ossaturá o desastre regendo Şàngó.
Laansã Laaşe a união e Ejionilê portas fechadas regendo Òsányìn.
Okarã a arma branca e Olokã Ele a viuvez regendo Nanan.
Obara Şekê o eco e Odi o fogo regendo Oya.
Bé Ofun o quebra ossos regendo Baba Egun.
Otubé kotan e Ejionilê o conflito. Domínio de tudo um pouco. Começo, meio e fim regendo Ifá.
Cada dia da semana traz além das características dos odùs que corresponde aos oríşas do dia acrescido também das características dos odùs que responder no jogo.
sábado, 14 de março de 2009
Igbeyáwo (Casamento)
O igbeyáwo foi feito obedecendo às regras de um rito afro-brasileiro, não poderia ter a intenção de copiar um casamento originalmente africano, até porque estamos no Brasil e com a chegada dos escravos vindos da sua Terra Mãe África, eles próprio tiveram que se adaptar a uma nova forma de adoração a seus deuses.
A cerimônia do igbeyáwo foi realizada no dia vinte e dois de novembro do ano de dois mil e oito. Antes deste ritual, no decorrer do mês, os noivos ficaram recolhidos. Foram feitas várias oferendas. A primeira para Èşu o deus da Fertilidade e da Libido. Depois para Ògún com pedidos de harmonia e proteção e por fim Òşun e Oshossi com os pedidos de felicidade, êxito, fortuna, etc.
Início da cerimônia:
O oníyàwó (noivo) sai de seu recolhimento para homenagear os oríşas dançando para Oshossi e Òşun. Após a dança se retira.
Chegada da ìyáwọ (noiva).
Ela é recebida pela sacerdotisa e outras mulheres que lhe veste e enfeitam para que possa entrar no barracão.
Pronta para começar a dançar para Oshossi e Òşun.
O encontro dos noivos:
Juntos dançam para os deuses da fertilidade: Èşu, Ògún e Oshossi.
As alianças:
Os pais da noiva abençoam as alianças. Começa o ritual de compromisso
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
Os Primeiros Descendentes de Ódùdúwa
Os descendentes de Nimrod o teriam seguido para guerrear contra a Arábia, e que lá se instalaram por um período. Depois por perseguição religiosa foram expulsos seguindo assim para África. A primeira colonização permanente deles teria sido em Yarba. É interessante observar que Yarba é semelhante ao termo Hausa de Yarriba para Yorubá.
Assim mais uma vez podemos concluir provavelmente que:
Os Yorubás são do Alto Egito ou Núbia.
Do Alto Egito foram para Ile Ifẹ (as esculturas conhecidas como “Mármore de Ifẹ” são de estilo totalmente egípcio).
O Ọpa Ọrañyan, obelisco erguido sobre o suposto tumulo de Ọrañyan tem o talho de origem fenícia.
Que os yorubás eram súditos do conquistador Nimrod que era de origem fenícia; e que os Yorubás o seguiram até a Arábia, onde se instalaram por um tempo.
Quando saíram expulsos de seu país Ódùdúwa e seus filhos juraram ódio mortal pelos mulçumanos que os havia derrotado e assim juraram vingança. Mas, Ódùdúwa desapareceu¹ em Ile Ifẹ antes que fosse poderoso o bastante para marchar contra eles. Seu filho primogênito Ọkànbi (Idẹkoşerọake) também desapareceu em Ile Ifẹ.
¹Observação: os heróis e heroínas divinizados nunca são citados como mortos, e sim como tendo desaparecido.
Sobraram então sete príncipes e princesas que mais tarde ficaram famosos. Deles é que se originou a nação Yorubá.
A primeira filha era uma princesa que se casou com um sacerdote. Dessa união nasceu Olowu o antepassado dos Owus.
A segunda também uma princesa tornou-se mãe de Alaketu, o pai do povo Ketu.
O terceiro um príncipe que se tornou rei de Benin.
O quarto era Ọrangun que se tornou o rei de Ila.
O quinto Onişabẹ ou rei de Şabẹs.
O sexto Olupòpo, ou rei dos Popos.
O sétimo e último Ọrañyan que era o pai dos Yorubás ou Ọyọs.
Todos esses príncipes se tornaram reis que usavam coroas para se distinguirem dos vassalos.
É preciso ressaltar que as princesas Yorubás tinham e ainda tem o direito de escolher o seu marido, podendo ser de qualquer classe social. E este fato não impede de seus filhos poderem ser reis.
Ọrañyan era o mais jovem neto de Ódùdúwa, mas também o mais rico e renomado. Como isso aconteceu é contado através de algumas histórias tradicionais.
Uma das versões desta história conta que com o desaparecimento do Rei, o avô deles. A herança foi dividida diferentemente entre seus herdeiros, como se segue:
O rei de Benin: dinheiro (conchas de cowry).
Ọrangun rei de Ila: as esposas dele.
O Onişabe o rei de Şabẹ: o gado.
Olupòpodos o rei dos Popos: as contas (rosários).
Olowu o rei dos Owus; os artigos de vestuário.
Alaketu o rei de Ketu: as coroas.
E finalmente Ọrañyan:nada além de terras.
Alguns afirmam que Ọrañyan estava ausente numa expedição bélica quando a partição foi feita, ficando assim excluído de todos os bens móveis. Porém, Ọrañyan ficou satisfeito com sua porção e imediatamente realizou com extrema habilidade as seguintes reformas:
Ele passou a considerar os irmãos como seus inquilinos que viviam na terra que pertencia a ele, logo, pelo aluguel Ọrañyan recebeu: dinheiro, mulheres, gado, contas, vestimentas e coroas, ou seja, tudo o que os irmãos haviam herdado, e como todos eles eram dependentes da terra, já que estavam se alimentando desta teriam que pagar tributo a Ọrañyan.
Além disso Ọrañyan era o escolhido para suceder o pai como Rei na linha direta da sucessão (a razão para isto era que ele “nasceu na púrpura”, quer dizer nascido depois que o pai havia se tornado rei. Este era um costume prevalecente para o “Aremo Oyè”, isto é, o primeiro nascido do trono, sucede o pai.). Para os irmãos foram designadas várias províncias em cima das quais eles governaram mais ou menos independentes, o próprio Ọrañyan foi colocado no trono como Alâfin ou Senhor do Palácio Real de Ile Ifẹ.
Outra história conta que Ọrañyan possuía somente um pedaço de trapo rasgado contendo terra, 21 pedaços de ferro, e um galo. Toda a superfície da terra estava então coberta por água. Ọrañyan pôs a terra que estava enrolada no trapo na superfície da água e após isto colocou o galo que com os pés espalhou a terra; a vasta expansão de água foi preenchida totalmente, e a terra seca apareceu em todos os lugares. Os irmãos dele preferindo se manter na terra seca em lugar da superfície da água, tiveram que pagar tributo anual a Ọrañyan para que pudessem usufruir com o irmão mais jovem, a sua própria porção.
Nota-se que ambas as histórias a terra pertence a Ọrañyan, conseqüentemente a declaração comum “Alâfin l’oni ilẹ” (o Alâfin é o senhor da Terra): os pedaços de ferro representam os tesouros subterrâneos, e o galo como subsista da terra.
Como podemos observar a primeira narrativa parece ser a mais provável, a segunda lembra mais uma caricatura da criação e do dilúvio. Mas é justo mencionar que geralmente a opinião mais aceita é aquela em que Ọrañyan ficou mais próspero que os irmãos devido ao fato de ser um virtuoso, já que eles são determinados por uma vida de licenciosidade desenfreada; e também sem dúvida o fato de ser o mais bravo que todos eles, ele era o preferido para estar sentado no trono ancestral de Ile Ifẹ que era então a capital do país Yorubá.
sexta-feira, 16 de janeiro de 2009
OKUTÁ (OTÁ)
É muito importante que saibamos a diferença entre uma pedra comum e um verdadeiro otá. Pedra é pedra; e um otá é um otá e não pode haver engano, porque um otá de oríşa representa uma vida e, portanto e para tanto não pode haver engano.
É preciso saber a diferença, pois uma pedra comum não tem vida, é morta e, com certeza não pode responder por nenhum apelo.
Entre um otá e uma pedra comum do mesmo tamanho, o otá pesa mais.
Segundo me foi dito, um otá tem que ter a forma tal e qual da geração humana. O formato do otá masculino é ao comprido e o feminino redondo.
Um otá não pode ser quebrado e nem polido.
Otás retirados de rio.
Otás retirados do mar.
À esquerda otá para oboró e à direita para ayabá.
Estes otás podem ser para oríşas tanto fêmea como macho ou que respondam pelos dois sexos.
Os otás colhidos no mar, porém podem ter vários tipos de formatos e ressaltos, a água do mar provoca a erosão que se encube de formar otás especiais. Embora sejam recortados, furados, não perdem sua essência e mantém seu peso e valor.
Abaixo alguns otás marítimos que dependendo de como ele é posicionado, podemos enxergar um animal, um totem, um, coração, um ibi, etc.
segunda-feira, 12 de janeiro de 2009
LOGUN OU LOGUN EDÉ, UM ORÍŞA, UMA FÁBULA. DEUS DA METAMORFOSE. DEUS DO SANGUE E DE SUAS DOENÇAS, CIRCULAÇÂO E CURA.
LOGUN OU LOGUN EDÉ, UM ORÍŞA, UMA FÁBULA.
Segundo o que me foi dito pelos negros curandeiros, com os quais convivi também pelos entendidos zeladores de santo de tempos atrás e hoje confirmado pelas minhas pesquisas através dos revezes acontecidos na vida de muitos clientes, filhos e adeptos que me procuram para um conselho espiritual, assim dando lugar a um conhecimento mais profundo das características deste oríşá e seus descendentes.
Os oríşas chamados Logun, para muitos só existe um, que é originário da união de Òşun e Oshossi, às vezes não sabem nem como chamar, se de Logun ou Logun Edé, pois bem, temos aqui os Loguns cultuados pelos negros antigos com os quais muito aprendi.
Devo explicar que apesar de apresentar o nome de oríşás, esses ensinamentos me foram dados através de estudos de òdús que são inteligências astrais que participaram da criação do mundo. Os oríşas regem ou são regidos por dois ou mais odùs que podem ser positivo, neutro ou negativo. Portanto quando coloco estas uniões é preciso que se entenda que não se trata de uma união carnal, mas sim de uma UNIÃO de FORÇAS de ÒDÚS, que tem como origem os òdús do oríşa Òşun.
Como nem todos têm conhecimento do que seja odù optei por dar nomes não dos odús, mas sim dos oríşas regidos por eles. Aprendi com esses mesmos negros que não se zela um oríşa sem o devido conhecimento de seus odùs de origem.
- LOGUN – OSHOSSI – ÒŞUN.
Oshossi marido e Òşun mulher. União das forças dos odus de Oshossi oríşa andrógino com Òşún.
- LOGUN – ÒGUN – ÒŞUN.
Ògun remador (empregado) e Òşun rainha. União de forças dos odùs de Ògun e Òşun.
- LOGUN – ŞÁNGÓ – ÒŞUN. União de forças de odùs de Şàngó e Òşun.
Şàngó pai e Òşun filha.
Então temos três Loguns e esses três em vice-versa, formam seis Loguns, ou seja, na composição acima são Loguns e estes mesmo trazendo a àyaba na frente, ou oríşá feminino: Logun Edé.
Pois bem, seis loguns, com um oríşa conhecido como Ògun Şoroke este porque seis meses de Ògun, seis meses Èşu, é da família dos loguns. Para se fazer este oríşá requer muita sabedoria, muito requinte, porque ele só estará concluído, quando para ele é sacrificado um cachorro.
Destes oríşas e de suas verdadeiras classificações, depende a vida e a sorte de muitas pessoas; primeiro porque existem e na maioria das vezes são ignorados; segundo porque a maioria só conhece o da união Oshossi e Òşun, e por isso não classificam os outros; terceiro porque tanto é difícil sua formação, como para se fazer um oríşa desse. Daí o interesse de muitos em ignorar. Para se raspar é necessário separar as partes de cada um dando o que é da parte feminina à àyaba e da parte masculina ao oboró. Suas curas, suas partes no mokunã (cabelo), seus apetrechos, etc.
Preciso salientar que ao falar de Logun e Logun Éde, eu destaquei Şoroke porque este logun requer todo cuidado e até muito mais que os outros. As miçangas são com as cores de Ògun e alguns pontos e Èşu, mas não a ponto de colocarem dois keles nesta qualidade de Logun, um de contas azuis e um de aço, como já vi fazerem por aí. Esta qualidade de Logun só se faz um kele, que se faz para Ògun – Èşu, por que:
- Este Logun não é bissexual e sim um homem que raciocina de duas maneiras, pondo-as em prática de acordo com a força da lua. Esta mudança é de homem bom para um homem mal e não de homem para mulher.
- Não é como os outros que com obrigação de um ou três anos dão lugar ao juntó. Mas ele passa a ser Èşu e Ògun para quando der obrigação de sete anos ele descansar e então dar lugar ao juntó.
- Ele não passa pela transformação de Logun Ede como os outros e até no orúkó (nome), enquanto os outros trazem nomes de conotação feminina e masculina, ele traz o seu nome só baseado na vida do homem e do diabo.
ORÍŞA LOGUN DA FAMÍLIA DE OSHOSSI E ÒŞUN
ODI DOVARIN E OBARÁ KÊ
Seus pais são Oshossi Ode e Òşun Anirá, representando este o amor livre e ao mesmo tempo o falso amor e o poder profissional.
Logun (Oshossi e Òşun) definição: marido e mulher estando todo o poder deste oríşa nas mãos do homem. Portanto para cultuá-lo nunca foi necessário dividir seu preceito nem seus balés şires (indumentária) e kele. Seu kele e adogun são baseados nas cores dos dois, ou seja, verde e dourado, embora alguns babaloríşas usem o azul e o dourado. Nas mãos traz o símbolo deste amor propagado. Na mão esquerda um ofá, símbolo do amor e da traição. Na mão direita uma adaga ou abebé ou um rekere. Tanto pode usar um adê como um turbante. Para sua feitura que é muito complexa, pois tudo terá que ser dividido a começar pelo batismo até os sacrifícios dos animais. A cabeça (orí) dividida lado direito para Oshossi, lado esquerdo pra Òşun, sendo que o juntó ficará com a parte de trás, enquanto que o escravo e o erê ficam com determinada parte da frente, retirada do pertencente aos dois òdus, que se complementam em um só oríşa.
ORÍŞA LOGUN DA FAMÍLIA DE ŞÀNGÓ E ÒŞUN
AŞETURA BESSA E OŞÉ
Logun (Şàngó e Òşun), este por sua qualidade é filho de Şàngó Aia, oríşa este que para os cultuadores de grande conhecimento carrega Oshala nas costas, não por gratidão, mas sim como castigo por sua traição com o surgimento deste filho.
Şàngó Aiá e Òşun Aleuá: sendo este Logun definido como Şángó pai e Òşun filha. Este obedece às mesmas regras normais dos outros, dividindo sua cabeça, sua pintura e sua roupa. Suas cores são o marrom e o dourado, tanto para seus balés şires como para suas vestes. Na mão esquerda traz o ogbogba (balança) que simboliza as glórias e a traição geração. Na mão direita uma adaga ou uma palma símbolo de seu império. Seu assentamento é muito delicado, por tratar-se de Òşun filha e por assim ser é feito um ao lado do outro. Este oríşa não foge a regra dos outros şàngós em relação a seu assentamento: uma gamela, dentro desta um oberó com ele e ao lado dele, dentro da mesma gamela, o de Òşun filha.
Este oríşa traz consigo uma grande ira em relação a traição de seus familiares. Não é contra ao matrimônio, mas também não é favor. Exige apenas de seus filhos uma reparação para a vida desregrada, condenando, se mulher, só possuir filhos homem e se homem só filhas. Um caso entre mil ele abre mão deste princípio, concedendo o direito a uma modificação e, em geral, seus filhos só encontram a paz e o bem estar quando bem maduros.
Este oríşa é dono do equilíbrio monetário e da economia. Seus filhos são dotados geralmente de grande facilidade para o acerto das finanças.
ORÍŞA LOGUN DA FAMÍLIA DE ÒGUN E ÒŞUN
ETAOGUNDÁ E EŞEOBARA
Logun (Ògun e Òşun), este é filho de Ògun Perere e Òşun Aboto, sendo este Logun definido: Ògun Remador; empregado de Òşun Rainha. Também este obedece as mesmas rergras e fundamentos dos outros. Suas cores são o azul marinho e o dourado. Este como os outros trás em uma das mãos o símbolo da traição uma estrela sobre um cálice e na outra o símbolo do sacrifício, representado por um barquinho a vela com duas espadas cruzadas em seu mastro. O seu assentamento acarreta a mesma imposição do homem, sendo o de Ògun em cima e o de Òşun embaixo.
A mitologia da vida deste oríşa é baseado nos pertences do mar, e geralmente seus filhos são pescadores, marítimos, etc.
Ele é bem favorável da vida a dois, porém vida esta cheia de drama e de conformidade. Seu ponto principal é a vingança. Seus bens são poucos, mas constantes. Nunca nada falta, mas também nada sobra.
Como foi dito que temos sete qualidades deste oríşa temos três no domínio masculino: Logun e estes três oríşas em vice-versa no domínio feminino: Logun Ede.
Os Loguns Edes são oríşas muito meticulosos em tudo, pois nem tudo pode ficar sob o domínio da mulher. E por assim serem, tudo o que diz respeito a eles tem que ser bem divido e bem equilibrado, para que ambos fiquem no mesmo nível pessoal, mas sem que a parte feminina perca a sua primazia. Para que tal aconteça, as coisas seguem este roteiro para qualquer Logun Ede: dois keles, dois adoguns, dois pares de contra-eguns (embora o yawo só use um par), duas senzalas, duas penas de kodidé, dois şaoros, um okutá (otá) representando dois sexos ou dois otás, o cabelo em dois, suas curas muito bem repartidas, sendo que em tudo isso a parte de ayabá fique por cima do oboró e em primeiro lugar.
Suas cores são as mesmas, suas vestes são de ayabá, porém com um laço atrás ou no ombro determinando o direito do homem.
Todos os Loguns Edés tem como princípio o casamento ou o amor eterno. O casamento para seus filhos é a coisa mais importante da vida, todavia não se adaptam com muita facilidade, pois não gostam de receber ordem do cônjuge.